Na visão de Artemísia, Hikari estava seguindo
para um destino incerto. Ela ainda não sabia exatamente o que estava
acontecendo, mas sua intuição lhe dizia que era algo grande. A venusiana tentou
várias vezes entrar em contato com seu antigo mestre através da telepatia, mas
falhou em todas. A guerreira decidiu procurar por Itá na Terra, se ela não
tivesse uma resposta, provavelmente Huxley teria.
Na Terra, Artemísia não consegue encontrar Itá.
A mercenária segue para Atlântida e conversa com o guru humanoide.
— Há algo muito estranho acontecendo...
— A única coisa que tenho a lhe dizer,
Artemísia, é que tudo segue como devia; não há com o que se preocupar.
— Então você sabe o que está acontecendo!
— Sim. Sei o que está acontecendo e o que nos
espera daqui para frente. — Artemísia pensa um pouco.
— E quanto a Hikari? Ele apareceu na minha
visão... significa que vai precisar de mim?
— É certo que sim, mas ainda não chegou o dia em
que sua ajuda será necessária. Aguarde e em breve receberá um pedido de ajuda,
não de Hikari, mas será um pedido que alinhará o seu destino e o do seu antigo
mestre novamente. Enquanto isso, siga com suas atividades sem se preocupar com
o futuro.
Em Marte, Hikari e Andyrá chegam à cidade mais
movimentada do planeta vermelho.
— Adoro esse caos de Marte... é o que alimenta
todo o Sistema... — Hikari observa, com alegria, toda a movimentação de pessoas
e drones nas ruas.
— Reconheço que sim, nobre Hikari, mas prefiro o
deserto. Já estou velho para a vida urbana.
— Velho! Você? Tenho no mínimo quatro séculos a
mais e ainda não me sinto velho... — Os dois riem, enquanto Andyrá pega o
cartão-chave de sua phantom com o atendente do depósito de veículos, em um
balcão de frente para a rua.
— Obrigado, rapaz! — Andyrá agradece. O
atendente sorri. Os dois sábios sobem no veículo e seguem para a pirâmide no
deserto de Anúbis.
Dentro da pirâmide, Hikari aprecia os detalhes.
— É impressionante como você conseguiu construir
este templo em tão pouco tempo... e somente com a ajuda dos humanoides e dos drones.
— Minha intuição parece ter melhorado com os
anos, e não me faltou inspiração. É como se fosse uma necessidade das
divindades a construção deste templo.
— Assim como foi há tempos com o templo de Nut,
certo?
— Eu diria que foi até mais forte que aquele
chamado. Mas vamos ao pergaminho.
— Claro. A roda
está girando mais rápido agora.
— Exatamente... Me acompanhe por favor! — Os
dois seguem para a sala das antiguidades.
— Veja! — Hikari se aproxima do pergaminho e
olha atentamente para ele.
— Posso pegá-lo?
— Claro! — Com o pergaminho nas mãos, Hikari o
analisa em cada detalhe, fecha os olhos e ouve sua intuição.
— Meu caro Andyrá, o pergaminho está incompleto.
— Incompleto?
— Sim. O que você achou foi uma parte dele. Quem
o guardou parece ter seguido o princípio da dualidade, e, provavelmente, seu
destino agora está ligado ao destino de quem tem a outra metade. — Andyrá fica
um pouco decepcionado e reflete sobre o que o amigo lhe disse.
— Acredito que sei quem poderá encontrar a outra
metade.
— E quem seria?
— Uma de minhas ex-discípulas.
— Seria a venusiana?
— Não. Para encontrar a outra metade do
pergaminho, somente um ser que já alcançou a sabedoria. Artemísia ainda nega
sua própria essência.
— A guerreira tem mesmo um temperamento difícil.
— Os dois riem.
— Vou meditar um pouco para ter certeza se minha
escolha está correta. Ao fim da noite entrarei em contato com Krishna, se esse
for o designo do destino.
— Nome forte. Espere, essa moça é A Eremita?
— A própria.
— Ainda não tive o prazer de conhecê-la
pessoalmente, mas sei que é uma pessoa confiável.
— Sim, ela é.
— Também irei meditar um pouco. Pela manhã
saberemos qual o caminho indicado pelo Dharma.
— Então os rapazes estavam pensando em me
excluir da festa? — Itá chega sem que os dois sábios a sentissem. Eles sorriem.
— Acho que as respostas não necessitarão de
meditação hoje, caro Andyrá... — Hikari comenta.
Os três sábios conversam a noite toda. Itá
instrui Andyrá e Hikari sobre como proceder na missão que envolve o pergaminho.
Ela aprova a indicação de Andyrá, que logo vai enviar uma mensagem para
Krishna. Os demais escolhidos já estavam sendo preparados há tempos; um deles
era o protegido de Artemísia, Hayato.
— Quanto trabalho temos pela frente...
— Não desanime, Hikari. Tudo corre como devia.
Basta que cada um de nós cumpra o seu destino e tudo acabará bem. — Itá
comenta. Andyrá olha preocupado para ela. — Não me olhe assim, meu querido
amigo. Tudo tem um fim e já cumpri todas as minhas missões nesta existência. O
caminho de vocês continua... Eu fico por aqui. — Hikari também tem a mesma
visão que preocupou Andyrá.
— Sinto muito por ter que partir agora, Itá. Só
posso dizer que me sinto feliz e muito honrado em tê-la conhecido. — Hikari
diz.
— Obrigada! — Itá sorri amavelmente enquanto
abraça Hikari. — Venha aqui também, Andyrá. Quero me despedir dos dois. — Os
três se abraçam e vão até a sala de meditação. Itá senta-se em posição de Lótus
pela última vez. Seu sistema já está gasto após todos esses séculos de
existência.
Enquanto
os três mestres se abraçam, a consciência da ginoide abandona a velha carcaça
que lhe serviu de morada e se liberta para outro nível de existência. Antes que
o corpo dela alcance o chão, Andyrá e Hikari o seguram. Os dois se olham e, sem
dizer uma palavra, preparam Itá para prestarem suas últimas homenagens.
Na Terra, Artemísia está observando o bebê de
Yuki dormindo, então sente que sua mestra e amiga havia deixado o Sistema Apolo
para sempre.
— Uma das estrelas mais brilhantes que guiavam
meus passos acaba de se apagar. O que devo esperar para o futuro próximo? —
Artemísia fala com pesar.