O homem viu o mundo girar,
pensava se estava vivo ou morto quando viu uma mulher maravilhosa ao seu lado,
com o corpo quase todo a mostra.
É, muito provavelmente estava
morto.
— O mundo dá voltas, não é?
Ele não entendeu o que aquilo
queria dizer, sentia uma dor de cabeça terrível, o que era uma notícia boa,
talvez não estivesse morto, apenas tivesse caído bêbado.
Não, ele lembrava do ataque de
kobolds. Da falta de resistência das pessoas, de como não queriam que ele
lutasse... e então... breu.
— A culpa foi toda sua! Se não
fosse por você e aquela sua amiga, meus pais estariam vivos!
Uau, aquela mulher estava
furiosa..., mas do que diabos ela estava falando?
— Não importa. — A mulher sorriu.
— Você será um sacrifício perfeito.
Ah, um sacrifício, fazia sentido....
Espera... sacrifício?
— Ei! Eu... não fiz... nada. —
Era difícil falar, ele sentiu algemas nos pulsos e tornozelos.
— Acalme-se, tudo vai acabar
logo.
A mulher levantou uma espécie de
lança e atingiu a cabeça do homem com o cabo.
***
Os quatro aventureiros seguiram o
túnel, aos poucos avistavam a entrada de uma câmara. Entraram nela e acharam o
que procuravam.
Não tinham dúvidas de que a
mulher sentada no trono de pedra e peles era Enora. Eles esperavam literalmente
uma mulher-dragão, uma criatura hibrida e aterrorizante..., mas não era bem
assim.
Era uma mulher linda, cabelo
louro com uma tiara de ouro. Botas negras que iam até as coxas, enfaixadas de
maneira desleixada. Suas luvas seguiam o mesmo ritmo.
Ela usava um vestido negro, que
deixava mais a vista do que escondia, e um biquíni de escamas de dragão por
cima. Uma maquiagem negra sobre os olhos e a boca, um sorriso gracioso no rosto
e uma lança na mão.
Estava cercada por alguns kobolds
e dois lobos. Ao fundo o grupo viu um homem inconsciente, ele estava
acorrentado sobre um altar.
— Olá.... Esperem, vou adivinhar.
Vieram acabar comigo. — Ela gargalhou. — Não façam isso, sou uma pobre orfã.
— Você está abusando das pessoas
de Hassembluff! — Bolton sacou sua espada. — Sacrificando pessoas em nome do
seu deus. Não permitiremos isso!
— Eu? Juro que não faço isso. —
Ela tinha um sorriso cínico no rosto.
— Aaah... e aquele cara? — Aron
apontou para o homem desacordado.
— Ele? É meu companheiro. — Ela
piscou.
— E as correntes? — Najla cruzou
os braços e levantou a sobrancelha.
— Aaahh... Fetiche?
A mulher voltou a rir, riu cada
vez mais alto, e limpou uma lágrima que escorreu dos olhos, parecia realmente
se divertir com aquilo. Então suspirou e se levantou.
— Muito bem, agora vocês morrem....
— Ela olhou para as criaturas a sua volta. — Queridos, matem eles.
Bolton incitou Meirelles e
avançou contra os lobos, Zanshow veio no seu encalço. Najla e Aron tomaram
conta dos kobolds que iam ficando mais fortes a medida que a mulher-dragão os
enchia de magia.
Assim que os lobos caíram o
halfling e o orc cercaram Enora. Ofegavam e sangravam, mas tinham as armas
firmes. A mulher balançou a cabeça, desapontada, e em um movimento rápido,
girou a lança, atingindo os dois. A lamina cortou a testa do cavaleiro, o cabo
atingiu o queixo do samurai.
Os dois cambalearam, mas
Meirelles ainda estava firme e cravou os dentes na perna da mulher, que gritou.
Ela mirou a lança na cabeça da loba, mas Bolton parou o golpe com seu escudo.
Zanshow aproveitou o momento e cortou as costas da mulher com sua katana. Ela
se virou para ele, mas foi atingida na nuca pelo halfling, e caiu no chão.
Amarraram a mulher e foram
conferir o homem. Ele tinha cabelos negros, era alto e esguio, usava apenas uma
calça de couro marrom e dava para ver sua musculatura definida. Não era um
fanfarrão qualquer ou sedentário, aquele era o corpo de um aventureiro. Bolton
deu alguns tapas no rosto dele, que acordou assustado.
— Aaaahh... não me matem.
— Não vamos matá-lo. Salvamos
você.
O jovem olhou em volta, ao seu
lado, pés grandes e peludos, levantando os olhos viu que pertenciam a uma
criança de orelhas pontudas.
— Hum... uma criança me salvou?
— Nós salvar você.
Uma voz grossa chamou sua
atenção. Ele viu um orc, com uma espada esquisita na mão, um elfo azulado, e
uma medusa...
Sério? Talvez finalmente
estivesse morto.
— E eu não sou uma criança! Meu
nome é Bolton Bolt. Um cavaleiro de Thiatys.
— Ah, ótimo, maravilha, muito
obrigado mesmo, pessoal. — O prisioneiro deu um sorriso amarelo e mexeu os
braços. — Agora... podem me soltar?
— Não sabemos se você ser
confiável. — Zanshow cruzou os braços.
— Sou extremamente confiável.
Ótimo amigo, grande cantor, e incrível arqueiro.
— Por que você está aqui? — O
halfling perguntou.
— Se não ficou obvio o
suficiente, eu seria sacrificado.
O halfling coçou a cabeça, Aron
jogou uma chave que havia pego nos bolsos de Enora e eles soltaram o homem.
— Agora diga, quem é você?
— Meu nome é Earwen Gramm, prazer
em conhecê-los. Agora podemos sair daqui? — Ele pegou seus pertences, que
estavam próximos do altar, e começou a se vestir.
— E o que você faz? — Bolton
ainda estava curioso.
— Na maior parte do tempo? Bebo,
canto e toco. — Ele deu um sorriso gentil, seus olhos eram incrivelmente azuis
e alegres, agitados, indo de um lado para o outro, hiperativos.
— Você não tem corpo de um
beberrão...
— Bem, geralmente me exercito
bastante... na maioria das vezes não é uma escolha. — Ele levantou um arco do
chão. — Esse amiguinho me ajuda muito. Aaah sim. — Ele apontou o arco para
Aron. — Você também é um arqueiro, não é? Posso ir com vocês? É bom ter alguém
para me ensinar algumas coisinhas.
— Nós somos um grupo de
aventureiros, viajamos de um lado para o outro. — Aron coçou a cabeça. — Não
sei se posso te ensinar.
— Posso ir com vocês?
— Você só quer escolta, não é? —
Najla levantou uma sobrancelha.
— A medusa bonita é esperta. —
Ele abriu um largo sorriso.
— Nós vamos entregar Enora em
Hassembluff. Ela deve ser julgada por seus atos. Que Thiatys lhe dê uma segunda
chance. Pode vir conosco, se quiser. — Bolton disse, montando em Meirelles.
— Queeeeê??? Vocês não mataram
ela? Qual é!
O homem começou a se afastar da
mulher inconsciente, pegando um alaúde que tinha no meio de suas coisas e
colocando na frente do corpo, como se fosse uma proteção.
— Você é um bardo? — perguntou
Bolton.
— Claro.. sim, sim...
— Ele não ser bardo. — Zanshow
olhou desconfiado.
— Aaahh... sou sim, querem ver?
Ele se sentou e começou a afinar
o alaúde, começou a tocar, era uma melodia diferente. Bolton ficou maravilhado,
ele era bom, o halfling parecia sentir uma energia entrando em seu corpo.
Sorriu, confiante.
— Olhe só, Zanshow, claro que é
um bardo.
O orc tinha a mão nos ouvidos,
aquela música fora horrível.
— Não é bardo!
— Vocês podem continuar com isso
depois? Temos trabalho a fazer. — Najla olhou furiosa para o trio.
— Aaaahh... tudo bem. — O samurai
desistiu.
Assim os quatro se tornaram
cinco, levando a mulher-dragão de volta para o vilarejo.
Eles entraram novamente na
Floresta dos Kobolds, andaram por algum tempo..., e se viram perdidos.
— Aron... — Zanshow olhou com
raiva.
— Desculpa, essa floresta é
realmente confusa...
Ouviram um barulho mais à frente
e decidiram averiguar. Dois minotauros estavam sentados em uma pequena clareira,
tinham o símbolo de Tauros, o deus da força, em suas vestimentas. Eles os viram
também, e se levantaram.
— Boa tarde, pessoal. — Earwen
começou a falar em taurico.
Os minotauros relaxaram ao ver
que uma daquelas pessoas sabia o idioma de sua terra natal, então se tornaram
mais amistosos e começaram a conversar.
Se chamavam Pinarius e Fannius,
estavam à procura de um elfo fugitivo. Bolton e Aron não gostaram muito
daquilo, escravidão era proibida no reinado.
— Vocês não podem caçar escravos
aqui. — O halfling disse, firme.
— Nós temos a documentação para
isso. — Pinarius estendeu um pergaminho.
Bolton olhou para aquilo, ele não
sabia ler taurico, mas tinha um selo ali. Earwen pegou o pergaminho.
— Eles estão falando a verdade.
Esse documento da liberdade para eles acharem esse elfo e levarem ele de volta.
— Ele se virou para Aron — Coitado do seu parente.
— Todos os elfos não são meus
parentes..., mas ainda não gosto disso.
— Nem nós. — Fannius reclamou. —
Nossa comida acabou, estamos morrendo de fome, mas não podemos voltar antes de
achá-lo, no entanto, nos perdemos aqui.
— Então comam com a gente, mas
não os ajudaremos com sua caça. — disse o halfling.
— Nós podemos dar uma pausa na
caça, se deixarem que a gente acompanhe vocês para fora desse lugar.
— Sendo assim, tudo bem. Espero
que a gente consiga sair logo daqui.
***
— QUE DIABOS DE LUGAR HORRIVEL!
Earwen correu até uma árvore com
uma corda na mão, Bolton, Zanhow e os minotauros lutavam. Aron e Najla olhavam
sem saber o que fazer.
É bem complicado pensar em algo
quando se dá de cara com o esqueleto de um orc enorme querendo matá-los.
No entanto, a criatura foi
derrotada, Bolton se virou e viu o homem amarrando a corda em uma árvore.
— O que você está fazendo?
— Ah... — Ele olhou para o esqueleto
desmontado e caído, sua ideia de derrubar a criatura não era mais necessária. —
Esquece, eu só...
Um grito interrompeu a conversa,
Bolton não parou para pensar, bateu os calcanhares em Meirelles, que disparou
na direção da voz. O resto do grupo foi atrás.
Em uma poça de areia movediça,
uma jovem se afundava. Ela gritava desesperada quando Bolton chegou.
Ele percebeu que ela tinha uma
grande tatuagem no ombro, que descia pela lateral do corpo. Devia ser uma
Qareen, uma raça de meio-gênios, eles costumavam usar poucas roupas, e mostrar
suas tatuagens com orgulho.
— Se acalme, vou tirá-la daí!
O restante do grupo chegou. Vendo
a situação, Earwen tirou a corda que acabara de guardar na algibeira e jogou
para a mulher. No entanto, ao olhar nos olhos dela, percebeu o erro. Ela deu um
pequeno sorriso e o homem parou de se mexer.
Dois homens saíram do meio das árvores,
segurando longas espadas curvas. Seriam homens... provavelmente..., mas eram
cobras da cintura para baixo.
Era uma armadilha de nagahs
Eles avançaram para cima do
grupo, muito provavelmente esperando por um grupo qualquer de viajantes, mas
estavam enganados e acabaram em clara desvantagem.
A batalha foi rápida, com Bolton,
Zanshow e os minotauros tomando conta dos machos. A nagah na areia movediça
conseguiu paralisar Najla também, mas seus companheiros já estavam derrotados e
ela preferiu fugir dali deslizando para fora da suposta armadilha
tranquilamente.
Depois de um tempo a medusa e o
ladino voltaram ao normal e todos seguiram viagem. Saindo, finalmente, daquela
floresta horrível.
Se despediram dos minotauros
antes de entrarem na cidade, já que os dois precisavam continuar sua busca.
Já era tarde da noite e o grupo foi direto para a estalagem de Kovarimm, o julgamento de Enora começaria na manhã seguinte.
N. A: O Earwen é o meu personagem, então as ações dele são realmente minha culpa..., já vou me desculpar desde agora por isso, pois ele não é muito sensato kkkkkkkkkk