O grupo passou o tempo no
Albergue de Greward, esperando pelo mensageiro de Denea Erix para saber como
seria o encontro com o tal Kisoku.
Tinham encontrado com Mira e Meia-Noite
naquela manhã, conversaram um pouco, mas os dois antigos companheiros estavam
mudando de vida. Ainda não sabiam bem o que fariam, mas disseram que iriam
embora de Thanagard em poucos dias.
Todos desejaram boa sorte e se
despediram logo depois.
Bem, não estava o grupo todo ali,
Zanshow tivera uma ideia, e arrastara Earwen para ajudá-lo assim que acordou.
***
O orc foi de taverna em taverna
puxando conversa e tentando subornar garçons. O bardo-ladino assistiu a tudo
aquilo abismado, era uma cena horrível de se ver.
Em determinado momento eles se
sentaram em um balcão.
— Zanshow querer algo bom.
O atendente, que usava um avental
e tinha um pano incrivelmente sujo nos ombros olhou para a criatura a sua
frente. Balançou a cabeça resmungando algo e encheu um copo sujo de liquido
transparente... que não estava tão transparente assim.
Vendo aquilo o jovem coitado que
havia sido arrastado pelo orc resolveu pedir por uma cerveja e, enquanto o orc
trocava algumas palavras desconcertantes com o dono da taverna, ficou de
ouvidos atentos para a conversa ao seu redor. Um grupo de anões mercenários lhe
chamou a atenção.
— Tô ficanu cansado dissu.
— Calma Grom, a gente chegou aqui
tem poucos dias. Com certeza o Pele de cordeiro vai ser mais difícil de achar
que isso. — Um anão careca de barba longa e negra respondeu, encurvado sobre o
copo.
— Enquanto eles estiverem me
pagando eu não tenho pressa. — Outro anão caçoou, com seu enorme bigode ruivo
trançado.
— É um saco quando a pista esfria,
ué. — Grom cruzou os braços. — Um cara que se disfarça tão bem a ponto de
ganhar esse nome vai ser difícil de achar.
— Mas sabemos que eles está aqui.
E olha o tamanho desse lugar, é minúsculo. Rapidinho a gente põe as mãos...
Earwen foi distraído pela voz de
Zanshow ao seu lado.
— Zanshow precisar achar homem
Kizoku. Sabe onde encontrar?
— Talvez... — O homem de avental
apoiou os cotovelos no balcão.
Zanshow tirou algumas moedas de
ouro e as pôs na mesa.
— E agora?
— Mas Zanshow... — Earwen tentou
interromper, mas foi cortado.
— Zanshow negociando, você ficar
quieto.
— Mas é que...
— Shiu.
— Ok, ok... to tentando falar a
manhã inteira, mas se não quer ouvir... — Ele ergueu a caneca como em um brinde
e tomou um longo gole.
O samurai se virou de novo para o
dono da taverna, que respondeu:
— Ele fica na Hospedaria Realeza
Rosada, é só marcar um horário que ele te recebe... se você for importante o
suficiente. — Ele deu uma risadinha sarcástica e o ladino ao lado do orc se
segurou para não acompanhá-lo.
***
Os dois aventureiros chegaram ao
albergue e samurai tomou a frente, orgulhoso.
— Zanshow conseguir informações
de Kisoku. Grupo poder ir encontrar com ele. Ele fica no Albergue Realeza
Rosada.
O orc inchou o peito e sorriu.
— Mas Zanshow. — Bolton começou,
erguendo uma das sobrancelhas e mostrando uma carta. — A gente já sabe de tudo
isso, inclusive estávamos esperando vocês para ir lá vê-lo. Lady Denea
conseguiu marcar o encontro.
— Earwen, você também se
esqueceu? — Najla cruzou os braços, incrédula.
— Eu? Tô tentando falar isso pra
ele desde que essa parede me acordou cedo e me arrastou pra fora da minha cama!
Mas quem disse que ele escuta. — O ladino abaixou a cabeça e suspirou, caindo
sentado no seu colchão de palha.
— Mas Zanshow até gastou
dinheiro. — O orc parecia não entender direito a situação.
Os outros arregalaram os olhos,
se viraram para o homem sentando, como se precisassem de uma confirmação.
— É verdade... sério, todo o
processo foi uma tortura para os olhos e os ouvidos.
O orc ficou emburrado e cruzou os
braços.
— Culpa do grupo por não avisar
Zanshow antes.
Todos abriram as bocas, pensando
em responder, mas olharam entre si e balançaram as cabeças, desistindo.
***
Na Realeza Rosada, eles
entregaram a carta de apresentação de Lady Denea na portaria e foram
encaminhados até o diplomata tamuraniano.
Assim que entraram na sala
Zanshow o reconheceu.
— Você. — Ele apontou para o
homem.
— Eu? — O homem levou uma mão ao
peito enquanto sorria.
Alguma coisa nos olhos dele fez
Zanshow ter certeza que tinha sido reconhecido também.
— Zanshow saber quem você é.
— Tenho certeza que sim. — O
homem não deixava de sorrir.
O grupo todo trocou olhares,
esperando o que viria da conversa.
— E você saber quem Zanshow ser.
— Hum... talvez sim.
— E Zanshow saber quem você é.
— Já percebi isso.
— Por que você estar aqui?
— Porque moro aqui? — Ele
continuou sorrindo com inocência.
— Mas Zanshow saber quem você é.
— Zanshow. — Najla sussurrou no
ouvido do orc. — Já repetiu isso bastante.
— Mas...
— Senhor Kisoku. — Bolton se
adiantou, interrompendo a conversa confusa.
Ele pulou em uma cadeira e
conseguiu se sentar, apesar de quase desaparecer nela, pigarreou e continuou:
Viemos a mando de Lady Denea
Erix.
— Sim, sim. — O diplomata abanou
a cabeça, o sorriso ainda ali. — Fui informado por ela das necessidades de
vocês. Lady Denea é uma grande amiga, e espero poder ajudar de todas as formas
possíveis, meus caros.
— Então, o mapa?
— Já está em andamento, mas vocês
terão que voltar aqui em algumas horas. Grafson é difícil de se convencer, mas
já mandei uma carta e conversarei com ele mais tarde. Tenho certeza que ele me
emprestará um dos mapas dos esgotos.
— Que ótimo. Voltaremos mais
tarde então. — Bolton sorriu e pelejou para sair da cadeira.
O grupo se despediu e foi
almoçar, pegariam o mapa mais tarde.
***
— Zanshow, pode nos explicar o
que aconteceu lá? — Bolton perguntou.
Estavam todos sentados comendo, e
as atenções se voltaram para o orc.
— Zanshow conhecer aquele homem.
— Já entendemos bastante essa
parte. — Aron revirou os olhos.
O orc grunhiu mostrando os
dentes, fazendo o meio-elfo voltar a encarar o prato, e então contou a história
de seu mestre, e explicou que Kisoku deveria estar morto.
— Ele não pareceu má pessoa. —
Bolton coçou o queixo.
— Mas ser.
— Bem, vamos com calma. Por
enquanto, o que nos importa é que ele conseguirá o nosso mapa.
Todos concordaram, apesar de
Zanshow ainda se sentir meio confuso e irritado.
***
Algumas horas depois eles
voltaram a Realeza Rosada e receberam o mapa. Foram então para o albergue, e
Kuoth começou a mexer em sua bolsa, tirando pena, papel e tinta.
— O que está fazendo? — perguntou
Bolton.
— Uma copia.
— Aaaahh... esperto.
— Sempre sou.
Assim que a cópia ficou pronta
eles saíram do albergue, e deram de cara com Héere.
— Conseguiram algo?
— Bom dia pra você também. —
Earwen cruzou os braços.
— Desculpem, isso vem me
estressando. — Se virou para os membros do grupo que ainda não conhecia. — Olá,
meu nome é Héere, desculpe incomodar tanto vocês, mas é necessário.
— Ajudar pessoas nunca é um
incomodo, meu caro. — Bolton bateu no peito e Meirelles latiu.
— Conseguimos o mapa, agora
precisamos chegar a entrada do esgoto no Distrito Sul.
— Ótimo, darei cobertura pelos
telhados. Vamos.
Com Kouth em posse do mapa e Aron guiando o
caminho eles chegaram a entrada dos esgotos, se despediram de Héere e entraram.