— Bom dia, senhores. — Um homem
abriu a porta do templo, ainda sonolento.
— Bom dia, meu senhor, gostaria
de falar com meu grande amigo paladino, Sir Gylas. — Bolton disse.
— Ele está viajando, meu senhor.
— Então o Irmão Miglo, por favor.
É de extrema urgência.
— Não posso acordá-lo senhor.
— Precisamos disso, por favor.
— Esse é o tipo de pessoa que tem
que acordar primeiro para esvaziar o penico dos outros. Esquece esse cara. — Najla
cruzou os braços, emburrada.
— Desculpe pela nossa companheira,
senhor, mas realmente é uma questão de urgência. Lamento, mas só posso falar
disso com o Irmão Miglo.
— Tudo bem, tudo bem...
O homem se foi e pouco tempo
depois chamou o grupo para que o acompanhasse até a presença de Miglo. Najla
ficou do lado de fora, não estava a fim de entrar naquele lugar.
O grupo explicou para o clérigo o
que havia acontecido e lhe entregou a água para que fosse levada para estudo.
Com esse assunto resolvido, e
depois de Miglo ajudar a recuperar Zanshow que estava bastante ferido, o grupo
finalmente resolveu partir na missão atrás do Malho da Realidade.
***
Kuoth voava sobre um rio onde os
esgotos de thanagard iam dar depois de caírem de um penhasco. Normal, se não
fosse pelo fato do qareen segurar um crocodilo enquanto voava.
— Escuta aqui elfo-peixe. Se essa porcaria de jacaré tentar me atacar, eu
largo ele! — Gritou para Aron lá embaixo.
O feiticeiro estava furioso,
pois, como sabia muito bem, a ideia de tirarem Croc da cidade daquele jeito viera
dele mesmo.
— Não se preocupe! Já disse para
ela ficar quieta. — O ranger gritou com as mãos ao redor da boca.
— Ó sim, e eu confio muito no que você diz pra ela fazer... Ok, ok,
estamos chegando, lagartixa gigante.
Croc não se movimentou além do
esperado e, por fim Kuoth colocou-a no chão e enxugou o suor da testa, se
afastando do animal.
***
No final do primeiro dia, o grupo
montou acampamento e definiu os turnos de vigia, deixando Najla e Kuoth com o
primeiro.
Tão logo os outros pegaram no
sono a medusa viu as três formas vindo em direção ao grupo enquanto o qareen
estava distraído, ela o cutucou e tentaram acordar o restante do grupo. Bolton
e Aron acordaram rapidamente, Zanshow levantou um momento depois.
Os três vultos eram Hobgoblins,
mas pareciam mais fortes que o normal. Lutavam melhor que os outros e estavam
dando trabalho para o grupo até que um disse:
— Ora, ora, vejo que melhoramos
muito desde o nosso último encontro, medusa.
— O quê? De onde te conheço? — A
clériga franziu o cenho enquanto desviava de mais um golpe.
— São os três que entregamos ao
Tex! — Aron gritou.
Zanshow atravessou a katana na
barriga de um, mas em vez de cair, o hobgoblin respirou fundo e então gritou,
atacando-o de novo.
— Por que bicho não morrer? —
Zanshow fez a pergunta mais inteligente da sua vida antes de voltar a luta.
Bolton também tinha problemas, e
Kuoth assistia a tudo isso quando olhou para o lado e viu Earwen dormindo e
roncando.
O feiticeiro abriu a boca para
xingar mas resolveu simplesmente chutar o ladrão imbecil, que acordou assustado
e olhou ao redor.
Viu a cena que se desenrolava no
acampamento e, sem tempo para despertar direito, agarrou o arco ao seu lado e
se impulsionou, ficando rapidamente de pé e atirou, mas o fato de ainda estar
meio dormindo não ajudou. Ele pegou a arma ao contrário e, na hora de atirar,
soltou-o, o que o fez voar longe para a frente.
Xingando muito, ele correu em
direção ao arco quando todos ouviram uma voz:
— Chega de testes, queridinhos!
Um homem musculoso, careca e
afeminado desceu da pedra alta e se dirigiu para o grupo. Os hobgoblins haviam
parado e o grupo todo o encarava.
—Tex! É você? — Bolton olhou
confuso para o homem. — Por que nos atacou?
— Bolton? Vejam só se não é o
grupinho que mais adogo! Ai gente, não vi que eram vocês, estava apenas
treinando meus lindos hobgoblinzinhos. O que acharam?
— Que poderia ter testado com
outra coisa... — Earwen resmungou, cruzando os braços.
— E quem seriam esses dois
lindinhos?... Olhem só, um qareen! — O clérigo se virou para Kuoth. — Adorei!
Você é uma gracinha, querido!
O feiticeiro levantou uma
sobrancelha, sem entender aquele homem estranho.
— Eles são novos membros do
grupo. — Bolton explicou. — Kuoth é nosso feiticeiro e o Earwen é o nosso
bardo.
— Earwen não ser bardo. — Zanshow
disse frustrado para Bolton pela milionésima vez.
— Um bardo? Que maravilha! Toque,
bardinho querido, vamos. Toque enquanto os adultos conversam!
Com raiva daquele homem, Earwen
se sentou com o alaúde e começou a tocar uma música furiosa, fazendo um ritmo
pesado e metálico.
— Geeeennte! Que luxo! — Tex
aplaudiu — Que estilo novo e maravilhoso! Você deveria investir nele, lindinho,
que tal chamá-lo de Heavy Metal? Significa Metal Pesado em goblinóide. Sim, um
nome tão lindo quanto esse qareen maravilhooooso aqui.
— Obrigado, eu acho... — disse Kuoth, antes de correr e se esconder
atrás do orc samurai.
Conversaram por um tempo até Tex
resolver que era hora de ir.
— Meus amores, tenho que ir,
estou voltando praquela cidadezinha de Thanagard.
— Tex. Zanshow querer saber. Você
conhecer Kizoku?
— Uuuuhh... — O homem careca
olhou para o orc com interesse. — Quer dizer que você conhece o segredinho
dele?
— Mestre de Zanshow matar Kizoku,
mas Zanshow ver ele em Thanagard.
Tex deu risadinhas com a mão na
boca.
— Kizoku não pode morrer bobinho.
Pelo menos não por meios convencionais. Isso é justamente o que venho
pesquisando. Ele não é desse plano. Não pertence nem mesmo a esta existência....
Pois bem, nos veremos depois. Até mais, meus amores!
Ele se virou e sumiu no meio das
árvores com os goblinoides, como se não houvesse dito nada demais.
***
No início do terceiro dia foram
atacados por um bando de nagahs, mas desta vez as criaturas não contavam com um
xamã ou guerreiros treinados, como os do Bosque dos Kobolds em Hassenbluff,
onde o grupo foi pego em uma armadilha.
As nagahs foram dizimadas sem
muito esforço, apenas quatro delas conseguiram escapar ao massacre com vida,
ainda que gravemente feridas. Depois disso, o grupo pôde vasculhar suas posses
e encontrar alguns tibares e itens úteis.
No fim do terceiro dia de viagem,
eles chegaram a um descampado, próximo a uma cachoeira. Metade do grupo foi
averiguar a queda d'água, enquanto a outra metade se preparou para montar
acampamento.
— Sério,
eu tô desistindo. — Kuoth resmungou.
— Somos dois. — Najla concordou.
— O que é isso, companheiros?
Aposto que estamos chegando. — Bolton disse, tentando animá-los.
— Zanshow não ver sinal de
labo... labori... palavra difícil.
— Do que vocês estão falando? —
Eastar gritou, de longe. — A cachoeira está ali. O laboratório é do lado.
O grupo se reuniu próximo ao
homem, que apontava a entrada de uma grande caverna, e exclamaram juntos:
— Aaaaaaaaahhhh....
— Tem razão, bardo! Estão vendo!?
Chegamos! — Bolton se animou.
Eles passaram por algumas árvores
e caíram em um terreno aberto. Puderam ver melhor a grande queda d'água que
dava em um precipício de quinze metros. Um tronco ligava os dois lados como uma
ponte, e logo depois puderam ver uma construção com um moinho e duas entradas
de caverna, além de uma terceira, isolada, que vertia água, o que Kuoth sabia
significar que um rio corria lá dentro.
Guardando uma das entradas da
caverna, o grupo viu doze orcs e decidiram tramar algo para chamar a atenção
deles, atacando assim que eles atravessassem o tronco.
Fizeram barulho e acenderam
luzes. Os orcs ficaram olhando para eles sem entender o porquê daquela baderna
idiota, mas se mantiveram inertes.
Desistindo daquela tática,
partiram para o ataque. Bolton atravessou o tronco montado em Meirelles, com
Zanshow logo atrás. Os orcs enfim atacaram, e por pouco não mataram Bolton com
uma machadada certeira, derrubando-o de sua montaria.
O resto do grupo ficou do outro
lado atacando de longe com seus arcos e magia.
Apesar do susto inicial com o
pobre halfling, que sangrava muito, eles conseguiram acabar com os orcs sem
maiores problemas. Najla pode curar os ferimentos do pequeno cavaleiro e eles
entraram em uma das passagens da caverna.
Caminhando um pouco mais,
chegaram ao rio interno, mas em vez de atravessarem a ponte que levava ao outro
lado do rio, viram que dava para retornar por um caminho que levava a outra
entrada.
Quando saíram novamente céu
aberto, se viram perto da construção que deveria ser o laboratório abandonado.
Aron seguia afobado na frente, querendo entrar no laboratório a qualquer custo.
Ele e Earwen procuraram por armadilhas na entrada, e só então o ladino abriu a
porta.
Kuoth sentiu vários pontos de
magia no lugar, sendo o maior deles vindo de uma poça no meio do aposento.
— Pessoal, não sei o que é aquilo,
mas é melhor não pisarem ali. — Apontou.
Enquanto ele falava, Aron, que
não prestava atenção, entrou de uma vez no aposento buscando qualquer coisa de
valor e, obviamente, acabou pisando na poça. Soltou um grito de dor e, ao olhar
para baixo, viu que a poça se levantava e se agarrava a perna dele.
O restante do grupo viu aquilo e
começou a recuar. O meio-elfo, apavorado, correu para fora da construção. A
poça se transformou em uma esfera de plasma flutuante e seguiu o ranger.
Earwen resolveu correr atrás de
Aron que ia na direção da caverna e Zanshow já os seguia, quando viram Bolton
atacando a esfera.
Najla e Kuoth também ficaram e
Zanshow voltou para ajudar.
— A recomendação era: Não lute
contra a Magia-Viva. O que meu lindo grupo faz? Luta contra a merda do bicho! —
Balançando a cabeça, o ladino voltou se lamentando e tocou no ombro do qareen. —
Encante meu arco.
O feiticeiro começou a lançar
magias para fortalecer e ajudar o grupo, que começou a lutar contra a criatura.
***
Aron corria apavorado, nem se
quer olhou para trás, seguiu em direção ao precipício e saltou no rio lá em
baixo, sem saber sua profundidade. Não importava o que estava acontecendo, só
queria sair daquele lugar.
Algo na sua cabeça dizia que a
água curaria seus ferimentos... nunca será descoberto de onde surgiu essa ideia
ridícula.
O rio não era tão profundo quanto
o jovem previa e, ao mergulhar, bateu sua cabeça em uma pedra, quase perdendo a
consciência. Por sorte conseguiu se manter acordado e continuou seguindo rio abaixo,
sem importar com onde estava o restante do grupo ou o que acontecia com eles.
***
Perto do laboratório os outros
lutavam, mas a esfera era poderosa demais, os golpes mal a afetavam enquanto
ela soltava ácido para todos os lados quando era atingida.
Não era uma batalha que poderiam vencer.