Aron lutava para subir o
precipício no qual havia pulado até que achou uma escadaria natural para
ajudá-lo.
Subia decidido a voltar e ajudar
os companheiros dessa vez, e o mais importante, achar a Croc, que obviamente,
não tinha pulado do precipício com ele.
***
A batalha parecia impossível e o
grupo não sabia como derrotar aquela energia viva.
Irritado, Kuoth olhou para o
laboratório e teve uma ideia.
— Apenas
aguentem um pouco mais!
Ele correu desesperadamente
contornando Zanshow e Bolton, que cercavam a bolha de plasma, e entrou na
construção com o moinho. Se concentrando, ele buscou todos os pontos de magia
que sentia enquanto lá fora os outros tentavam conter a ameaça.
Acabou achando pergaminhos e
poções, também pegou uma pequena caixa escrita GURY, um cilindro estranho e uma
coroa de ouro que, apesar de não conterem magia alguma, lhe chamaram a atenção.
Saiu da construção e abriu a boca
para gritar que todos fugissem quando viu Bolton ser atingido e ficar
inconsciente em cima da sela.
Naquele momento os aventureiros
viram Aron se aproximar com Croc, preparado para atirar. Ninguém sabia o que
havia acontecido com ele depois que fugiu apavorado, mas parecia ter conseguido
criar coragem para voltar, o que não era mais necessário, já que era hora da
“retirada estratégica”, vulgo fuga desesperada.
Meirelles percebeu seu dono
inconsciente em cima dela e começou a correr para longe da bolha para
protegê-lo, em cima dela todos podiam ver um pequeno halfling pulando
inconsciente enquanto seus pés peludos subiam e desciam nas laterais da sela.
Kuoth disse algumas palavras e
Zanshow se viu mais veloz que o normal, conseguindo fugir dali antes de acabar
no mesmo estado que o pequeno cavaleiro. Depois disso o qareen saiu voando sem
olhar para trás, seguido por Earwen, que corria desesperado.
O orc, no entanto, foi atingido
por um jato de ácido, mas com um urro de dor, e quase desmaiando, ele conseguiu
mancar para longe.
Najla foi a última a correr e já
estava quase na entrada da caverna quando olhou para trás e viu Aron com o arco
armado encarando a criatura. Ele foi atingido enquanto atirava e caiu
inconsciente. Croc se pôs na frente dele e atacou a criatura para protegê-lo,
enquanto a medusa pegava o meio-elfo nas costas e seguia atrás do grupo.
Novamente dentro da caverna os
aventureiros atravessaram a ponte que passava pelo rio subterrâneo. A clériga
pôs Aron no chão e começou a arfar, sem fôlego, junto com o restante do grupo,
que se encontrava estirado no chão.
Ninguém viu Croc aparecer. Kuoth
sentiu a energia viva no mesmo lugar que antes, não os perseguira, eles
souberam que não voltariam mais a ver a crocodila.
Depois de um pequeno descanso e curas
da Najla, o grupo decidiu enviar batedores para descobrir o que havia mais para
a frente.
Earwen foi escolhido, apesar de
não gostar da ideia, e a medusa se ofereceu para ir com ele. Kuoth manteve
contato telepático com o ladino, que começou a transmitir a situação em que ele
e Najla estavam depois de subirem na passagem construída que seguia para o
interior da caverna.
Era uma situação simples: Dois
orcs grandalhões em barricadas na frente de escadas em um salão com uma porta
nos fundos.
O humano gesticulou para a
companheira que deveriam voltar e se juntar ao grupo, mas ela balançou a cabeça
em negação e seguiu andando confiante, sem ligar que os orcs a vissem.
— Sou uma clériga de Tenebra. —
Ela retirou o cordão com o símbolo da deusa e mostrou aos guardas. — Quero
passagem.
Não foi um gesto muito
inteligente, vendo que a reação dos orcs foi armarem os arcos e se prepararem
para atirar.
Vendo que a situação só pioraria,
Earwen apareceu, surpreendendo um dos orcs, que não esperava aquele homem
surgindo de trás da medusa sem fazer som algum. O ladino conseguindo acertá-lo
com uma flecha no ombro e o adversário urrou, se virando para o companheiro.
Os dois guardas correram então
até duas alavancas nas laterais da porta e as abaixaram. Um som chiado começou
a vir do chão e, de repente, uma enxurrada pegou Earwen e Najla de surpresa. A
medusa conseguiu se segurar em uma das pilastras e se manteve de pé. Quando
olhou para o lado, no entanto, viu que faltava um certo humano imbecil ali.
— Aaaaaahhh!!!
Ao ouvir o grito, as coisas se
esclareceram e a clériga pôs a mão no rosto enquanto balançava a cabeça antes
de se voltar furiosa para os orcs.
Disparou para cima do ferido e,
antes da criatura poder fazer qualquer coisa, foi tocado por ela. Com um
sorriso no rosto, a medusa viu o orc ficar branco e cair no chão. O outro
largou o arco e pegou o machado, Najla correu até onde ele estava, segurou na
barricada para subir, e viu um machado ser cravado na madeira bem ao lado da sua
mão.
— Ho ho ho. Não, senhor!
Subindo e encarando o orc, ela o
tocou, mas ele continuou em pé, com um sorriso selvagem, ela viu o ferrão do
mantor atravessá-lo e ele caiu no chão.
Najla olhou para os dois corpos e
riu.
***
La perto da ponte, o restante do
grupo ouviu um grito e viram Earwen descer, sendo arrastado pela água. Ele já
começava a gritar, cada vez mais desesperado, ao se aproximar do rio que
atravessava a caverna, quando sentiu uma dor no couro cabeludo e se viu
subindo... e subindo... até perceber que era puxado pelos cabelos por Zanshow,
que o encarava, confuso.
— Pareeede! Que milagre você por
aqui!
— Por que Earwen indo embora?
— Embora... não, não, não... só
estava com saudades. Agora, se não for pedir muito... posso voltar pro chão?
Depois de ser solto, o grupo
rapidamente subiu para descobrir o estado das coisas, Kuoth já tinha dito tudo
o que acontecia enquanto Earwen era arrastado, então o que precisavam fazer ea
ajudar Najla.
Só não esperavam pela cena que se
apresentava à frente deles.
Na entrada do salão, todos
pararam lado a lado e olharam para a área do altar, onde Najla estava sentada
em cima de dois corpos de orcs enquanto balançava as pernas e sorria, talvez um
sorriso fofo, se ela realmente soubesse como fazê-lo.
— Essa
medusa às vezes me dá medo. — Kuoth disse telepaticamente para o ladino, que
apenas engoliu em seco e concordou.
As portas atrás da clériga se
abriram e ela se virou para olhar enquanto os outros se aproximavam. Ela subiu
as escadas sendo seguida por Zanshow, Kuoth, Aron e Bolton. Ninguém notou o
desaparecimento de Earwen.
Quando chegaram ao fim dos
degraus viram quatro orcs que já pareciam esperar por eles. Dois guerreiros
portando machados estavam próximos da escadaria, ao fundo um dos oponentes
parecia uma espécie de xamã, com um orc um tanto maior ao lado usando uma coroa
de prata. Os sensores mágicos de Kuoth apitaram para este, ondas de magia vinha
de seu machado e sua armadura.
—- Senhores, não queremos
confusão. — Najla começou, com uma expressão não muito convincente.
— Vocês estarem em lugar que não
deviam. — O orc que parecia um xamã falou em Valkar, o que surpreendeu o grupo,
que já estava desistindo de ter qualquer tipo de conversa com orcs (exceto
Zanshow, claro). — Voltem para lugar de onde vieram!
— Eu sou uma serva de Megalokk. —
A clériga tentou uma nova abordagem. — Viemos em busca de algo e queremos saber
se vocês o tem.
— Não interessar o que vocês
buscar. Servos de Megalokk não orcs devem morrer.
— Bem, tenho a mesma opinião
sobre não medusas.
— Isso ser ameaça?
— Se formos chegar a esse ponto.
— Muito bem! Então duelo! Um de
vocês enfrentar nosso campeão! Vamos lá, covardes!
Aron armou o arco e atirou no
xamã.
— Cansei de ouvir, não vou ficar
de fora da briga, então vamos ter uma batalha de verdade aqui!
— Malditos! — O xamã gritou. —
Peguem-nos!
— Aron? — Kuoth
se virou para o meio-elfo.
— O que foi?
— Às
vezes você pensa?
— Do que está falando?
— Nada,
apenas se prepare!
Os orcs já se prepararam para
partir para cima do grupo.
Bolton percebeu que estava
faltando algo, um barulho, algo irritante com o qual se acostuma e que acabara
fazendo parte do ambiente... então lembrou que uma vozinha faltava ali, alguém
faltava.
— Onde está o bardo? Ele não
lutará conos...
— Claro que vou lutar
"conosco", Boltinho.
Uma flechada atingiu o orc que
vinha da direita, brandindo o machado. O orc gritou de surpresa e dor no
momento em que todos viam Earwen surgir ao lado de Najla, já com outra flecha
preparada, ninguém soube dizer de onde ele veio ou como apareceu ali, mas já
não importava.
— Viram só! EU – FUI – ÚTIL! Rá!
O halfling e os outros entenderam
o que era o sentimento de falta, era uma junção de voz irritante com frases
idiotas.
Sem tempo para responder e
querendo aproveitar a surpresa dos inimigos, Zanshow e Bolton partiram para a
luta, batendo de frente com os três orcs guerreiros que vinham em linha com o
campeão no meio.
Mesmo estando machucados, o grupo
lutou com força. O orc com a coroa, o campeão do xamã, rodava seu machado a fim
de acertar os oponentes que o cercavam, mas os ataques eram constantes e os
outros guerreiros orcs não conseguiam ajudá-los, já que eram constantemente
atingidos por flechas ou magia.
A troca de golpes seguiu por um
tempo até que Bolton e Zanshow aproveitaram a queda de um dos orcs e o instante
de hesitação do campeão para cortá-lo pelas costas e perfura-lo na barriga, ao
mesmo tempo. O orc com a coroa de prata caiu no chão.
O pequeno cavaleiro avançou com
Meirelles para cima do Xamã, que já era atacado por Aron e Earwen.
Zanshow e Najla se concentraram
no guerreiro orc que faltava e, vendo que a batalha estava ganha, Kuoth riu e
resolveu testar sua besta, armando-a e atirando no orc guerreiro. O virote, no
entanto, passou longe e acabou atingindo uma parede, caindo inofensivo no chão.
— Como
alguém usa uma porcaria como essa? — reclamou, olhando com ódio
para a arma e sacudindo-a no alto para mostrar aos outros.
Zanshow não aguentou e explodiu
em uma gargalhada, enquanto desferia o último golpe no orc guerreiro.
— Menino vermelho ser muito
burro!
— Nhe nhe nhe... — Kuoth nem
acreditava que estava ouvindo aquilo vindo do orc samurai.
Nesse momento, Bolton se engajava
em uma luta contra o Xamã, quando de repente, foi coberto em uma névoa escura e
espessa. Sem conseguir ver nada, contou com Meirelles, que começou a farejar o
oponente que faltava. A loba conseguiu ainda morder o orc, que tropeçou e quase
caiu no chão. Ouvindo o barulho, Bolton brandiu a espada e, olhando para frente
como um cego, disse:
— Renda-se agora! Por Thyatis!
Quando a fumaça se esvaiu, o
pequeno cavaleiro se viu perto da parede do fundo do salão, o xamã não estava
mais lá. Ele franziu o cenho e começou a buscar por sinais de uma passagem.
Aron foi ajudá-lo e encontrou uma
pequena manivela escondida. A acionou, fazendo com que um pedaço da parede
deslizasse e o grupo pôde ver um rio com um barco amarrado na margem, além de
uma corda solta que, provavelmente, estava prendendo o barco que o xamã havia
utilizado para fugir.
Kuoth percebeu que aquela
passagem era uma saída de emergência, não havia como chegar a ela pelo rio a
não ser remando contra a correnteza, o que seria um trabalho quase impossível.
Percebendo que enfim não havia
mais perigo, o grupo fechou a passagem e começou a revistar a sala, descobrindo
três estátuas, sendo uma delas de Khalmyr, ou Heredrimmm, como era chamado
pelos anões.
À esquerda dessa estátua havia
uma de Tenebra, e à direita uma de um deus menor dos anões, Thanatorimm, o deus
da magia arcana, do conhecimento, e das ciências.
Cada estátua tinha pequenas
marcas na testa que chamaram a atenção de Bolton e Kuoth, eles entenderam enfim
qual era o lugar das coroas que acharam, ainda assim, faltava uma.
O grupo resolveu usar o salão
para descansar, passando o resto do dia e o dia seguinte descansando, comendo e
bebendo, para tentar recuperar os corpos enquanto Najla auxiliava com suas
curas.
Zanshow pegou o machado do corpo
do oponente para analisá-lo.
— É um bom machado. — Kuoth comentou, sentindo a aura mágica da
arma.
— Zanshow fazer bom uso dele. — O
orc se sentou para descansar junto com os outros.
Só depois de recuperados decidiriam que caminho
tomar.