Akatsuki
ainda olhava desacreditada. Nenhuma palavra saía de sua boca. Seus olhos
marejados e o rosto pintado pela perda de seu amor. Sua falta de força estava
martelando sua cabeça enquanto ela martirizava-se por não ter feito nada para
impedir Ichijou de morrer. Ela não ligava para nada. A luta que acontecia à sua
volta não importava. Ela tremia, seus soluços estavam cada vez mais altos
enquanto ela curvava-se sobre si. As últimas palavras de seu amado ainda
ecoavam em sua cabeça. Mesmo ele não tendo necessariamente falado nada, sua
afável voz, que ela ouvira tantas vezes, reproduziu-se automaticamente em sua
cabeça. “Sinto muito meu amor, eu fiz você chorar novamente”. Essas simples
palavras alimentavam o turbilhão dentro dela. Akatsuki entendia que deveria ir
embora dali, mas seu corpo se recusava a deixá-lo para trás. O pensamento de
atirar-se ao abismo para encontrá-lo mais uma vez, mesmo que apenas mais uma
vez, passou em sua cabeça. Aquele pensamento nefasto foi afastado com um toque
suave em seu ombro.
Ela
tremeu ao sentir a mão de alguém lhe tocar e ergueu os olhos inchados pelas
lágrimas. Ryu olhava para ela. Seu semblante era de tristeza, ele parecia
entender o que ela estava sentindo, mas precisava ser forte. Ele havia feito
uma promessa, promessa essa que teria certeza de cumprir.
―
Nós precisamos seguir em frente – ele disse com o pesar na voz.
―
Eu... – Akatsuki tentou dizer alguma coisa, mas rompeu em lágrimas uma vez
mais.
―
Não se preocupe com ele – Ryu deu-lhe uma tapinha no ombro – Shosuro-san deve
encontrar uma forma de voltar.
― É
impossível que ele esteja vivo depois daquelas... – Karasu disse, mas foi
interrompido por uma cotovelada de Seta. Eles entendiam que o Escorpião
morreria devido àquela gravíssima ferida, mas haviam coisas que não podiam ser
ditas a alguém de luto. Felizmente, Akatsuki não parecia ter escutado o que o
Caranguejo falou. Ryu ajudou-a a levantar-se. O Portal estava aberto agora.
Diferente de antes, onde os corpos evaporavam aqui, os cadáveres amontoavam-se
espalhando seu sangue enegrecido corrompendo a terra. O cheiro de morte e
sangue estava pelo ar. Akatsuki olhou mais uma vez para o abismo e com um dor
muito além de qualquer outra que sentiu, virou as costas. Limpou o rosto pálido
e caminhou com a ajuda de Ryu. O Leão manteve o contato não mais que o
necessário na Garça e afastou-se um pouco andando à frente dela. Seus passos
eram firmes, mas havia luto. Lento e com o peso de ter perdido um aliado, que
mesmo que apenas por pouco tempo tornou-se alguém que deixaria a marca da
perda.
Ryu
sabia que não era seu dever, não era nem mesmo alguém que fosse considerado
amigo de Ichijou, mas como um filho do mesmo Clã, o Leão devia prestar respeito
e informar à mãe do Escorpião de sua provável morte. Nunca havia a encontrado
de fato, mas ela era uma figura muito respeitada e conhecida dentro do Clã, e
por ter conhecido seu filho quando ainda era vivo o Akodo viu-se na obrigação
de fazer aquilo. Aquele trabalho deveria ser da noiva do rapaz, mas dado a atual
condição da pobre garota o Leão jugou que ela ainda não estava pronta. A morte
dele havia acontecido há pouco, que tipo de monstro julgaria alguém por perder
seu amado? Apenas demônios do Jiguku e Perdidos teriam tamanha frieza.
O
Leão foi o primeiro a passar pelo portal, seguido pelos outros. Akatsuki foi,
no entanto, a última a passar. Algo ainda a prendia ali, uma vontade de
jogar-se precipício a baixo para poder pelo menos na pós vida encontrar seu
amado. Seu peito doía como se uma espada cega rasgasse sua carne e
transpassasse seu coração. Sua mente estava em branco, ela não conseguia pensar
em mais nada além daquilo. Seus olhos estavam vazios, como os de alguém que lhe
foi negado o direito de viver, alguém que teve tudo o que lhe era de importante
arrancado e deixado apenas as migalhas para trás.
Em
um lampejo de saudades ou talvez de esquizofrenia, ela viu a imagem de um homem
olhando para baixo diretamente ao precipício. Ele vestia roupas totalmente
brancas e seus cabelos eram tão lisos e suaves que mais pareciam parte de uma
pintura. Akatsuki ficou espantada e seu coração apertou quando viu que o homem
ali parado era a imagem e semelhança de seu falecido noivo, mas havia algo
diferente. Ichijou era um homem bonito, não havia nenhuma dúvida nisso, mas
aquele ali parado tinha um esplendor quase divino. Sua expressão era de uma paz
inumana e seus olhos transpareciam bondade.
Seu
noivo era um bom homem, mas a expressão dele nunca seria daquela forma, seus
olhos nunca demonstraram nada além de pura sedução. Em seu amago ela sabia que
havia algo errado, aquele não era seu Ichijou. Quem poderia ser, então? E seja
lá quem fosse, porque ele tinha a mesma aparência de seu amado? Ela
aproximou-se cuidadosa, buscando não fazer nenhum barulho, mas ela não tinha a
mesma habilidade que o Escorpião. Seu pé bateu em uma pequena pedra que rolou
na direção daquele homem.
O
coração dela parou por um segundo, ela tinha medo do que podia acontecer se
fosse descoberta ali, mas traindo suas expectativas o homem continuou parado
olhando para o abismo sob seus pés. Ela continuou olhando para o homem que
ficou em silêncio um pouco mais. Ele não tinha nenhuma arma e mesmo que ela não
fosse uma guerreira ela sabia que conseguiria defender-se de um homem
desarmado. Aproximou-se um pouco mais para ter um vislumbre melhor do homem ali
parado, mas congelou no lugar quando ouviu a voz levemente distorcida do homem
que amou um dia.
― Você sente a falta dele? – o homem falou, sua voz era idêntica a de
Ichijou, mas havia uma leve distorção nela, uma mudança tão sutil em seu timbre
que apenas ela que passou tanto tempo com seu amado podia saber a diferença.
― Quem é você? – Akatsuki perguntou com a voz trêmula, mas reuniu toda
a sua coragem para aproximar-se e ver aquele homem mais de perto.
― Quem eu sou ou o que eu sou não tem nenhuma importância – o homem
disse dando um sorriso caloroso e cheio de vitalidade. Seus olhos eram
prateados e havia uma luz de sabedoria, ele tinha um ar de alguém mais velho.
Ela já estava acostumada com aquele tipo de arrogância, seu pai e seu sensei
tinham aquele tipo de comportamento. Mesmo seu sogro tinha aquele tipo de
atitude algumas vezes. O homem tirou sua atenção do abismo e fitou ela
diretamente – O que importa é o que você está sentindo nesse momento, menina.
― Eu não sou uma criança! – Akatsuki disse com raiva. Ela sempre era
provocada por seu noivo daquela forma, mas ouvir alguém tentar fazer o mesmo
sendo que nem mesmo sabia com quem estava falando era no mínimo aborrecedor.
― Oh, sinto muito por isso – ele disse surpreso, não pareceu sua
intenção deixa-la irritada de alguma forma – Foi apenas o hábito, não se
incomode com isso, por favor.
― Por que você tem a aparência de meu noivo? – ela perguntou.
― Essa é a aparência que você desejou ver – o homem disse – nada mais,
nada menos. Seu noivo deveria ser alguém muito importante para você. Sua dor
foi quem me trouxe até aqui, talvez para tentar impedi-la de fazer algo que não
haveria volta.
― E o que eu iria fazer que precisasse impedir-me? – Akatsuki
perguntou surpresa.
― Você pensou em pular daqui – o homem disse com tristeza na voz –
acha que isso mudaria o que aconteceu? Sua morte não o traria de volta.
― Desculpe por ser grossa, mas isso não lhe diz respeito – ela disse
erguendo uma sobrancelha.
― De fato, eu não estou aqui para obriga-la – o homem disse com um
sorriso – mas se fosse ele em seu lugar agora e você tivesse dado a vida para
salvá-lo; você gostaria que ele se matasse para encontrar com você?
― Não – ela disse um pouco envergonhada – além disso, eu tenho certeza
que ele não faria algo tão estúpido.
― Por que você acha isso? – o homem perguntou curioso – você não acha
que ele te amasse tanto?
― Não diga besteiras usando a boca de meu noivo – ela disse com raiva
– eu sei que ele me amava, ele apenas não pensaria nesse tipo de coisa.
― Será mesmo que ele não pensaria? – o homem voltou a olhar para o
abismo – homens são criaturas fascinantes sabia? Criaturas muito simples, no
entanto. Ele certamente teria pensado no mesmo que você pensou, tenho certeza
disso. Seu último pensamento foi para você, nem mesmo a própria vida era mais
importante que sua segurança.
― Como você pode saber? – Akatsuki perguntou confusa.
― Eu sei de muita coisa – o homem disse – Poucos fariam o que ele fez
por você. Muitos dizem que daria as suas vidas por aqueles que amam, mas quando
o momento de desespero chega, abandonar é muito mais fácil. Apenas os realmente
corajosos e os que amam de verdade poderiam chegar a dar a própria vida. Talvez
tenha sido isso que me trouxe aqui de fato. Sacrifício.
― Eu não ligo para o sacrifício, ele não precisava ter feito aquilo –
ela disse e uma lágrima começou a escorrer por sua bochecha – eu só queria que
ele estivesse aqui. Ele era um imbecil, mas era o meu imbecil.
― Sua dor é muito grande, nada do que eu possa dizer irá amenizá-la,
mas morrer não seria o que ele iria querer para você – o homem disse – viva por
ele, é tudo o que você pode fazer nesse momento.
Akatsuki piscou e enxugou as lágrimas por um momento. Viver não era
mais uma opção, não sem o seu amor, mas ela poderia pelo menos tentar. Ergueu a
cabeça para encarar o estranho homem novamente, mas ela agora estava sozinha à
beira do penhasco. Ela olhou para baixo e aquilo parecia tentar engoli-la, ela
não tinha medo, era na verdade o seu desejo ser engolida e com sorte ser levada
para o mesmo lugar que ele. Lágrimas voltaram a correr descontroladamente e não
importava o quanto ela tentasse, não havia como pará-las.
Ela abaixou-se ficando de joelhos na borda do precipício e fez uma
oração pelos pequenos deuses para protegerem seu noivo. Havia ainda uma pequena
chama, quase extinta, de esperança que aquecia seu coração. Talvez a conversa
com o estranho homem tenha lhe feito as brasas em seu peito tornarem a
ascender. Ela continuou as preces um pouco mais e ousou ir um pouco mais além,
pedindo pela intercessão do próprio Vazio. O Vazio não era como os outros
elementos, não havia kamis ligados a ele, havia apenas o poderoso Dragão do
Vazio. Ela não era um Ishiken, pois não tinha o talento para tal, mas ela
poderia pelo menos tentar apelar para que o Dragão o salvasse. Ela apertou as
mãos uma contra a outra e rezou ao Vazio com tudo o que tinha. Continuou ali
por um longo tempo fazendo várias preces e quanto já estava completamente
exausta ela levantou-se. Derrotada e mesmo depois de tanto pedir não houve
nenhuma resposta. Ela esperava algum tipo de sinal, dado que suspostamente
estava em um reino próximo ao próprio Vazio, mas não houve nada. Caminhou
lentamente em direção ao portal e o atravessou, mas não antes de ter um último
vislumbre do lugar que lhe havia tirado o que era de mais precioso.
A porta levou-os para o meio do nada; um campo aberto indescritivelmente
extenso. Capim seco podia ser visto cobrindo todo o solo até onde a escuridão
podia permitir. Apenas as estrelas iluminavam aquela planície aberrante. Havia,
mais ao fundo, um aglomerado de sombras disformes que em um raio de lucidez o Leão
conseguiu discernir como uma floresta e ainda mais distante havia uma cadeia
montanhosa que longe demais para a percepção humana funcionar corretamente
parecia ondular ao sabor do vento noturno. O ar ali era um pouco seco e
misturado ao cheiro da grama alta havia sal, o mar deveria estar próximo.
Ryu esperou que todos tivessem terminado de passar pelo portal, apenas
havia notado que deixara a noiva de seu companheiro caído para trás e sua
consciência pesou. Ele temeu o pior achando que ela iria cometer algum tipo de
besteira, mas sua mente aliviou-se, junto a seu coração de guerreiro, quando
viu a mulher passar. Ainda havia uma mistura confusa de sentimentos em seu
rosto. Havia tristeza e melancolia, mas um brilho novo de determinação. Ela
pareceu colocar sua mente no lugar naquele momento. Seus olhos delicados
estavam fundos, inchados e sua maquiagem borrada pelas lágrimas já secas em
suas bochechas.
O
Leão não havia notado aquilo, talvez ninguém tenha notado; nem mesmo a mulher
que estava de luto, mas havia algo sobre o tempo que era diferente naquela
dimensão. O tempo passava diferente em cada sala pela qual eles passavam. Não
entenda errado, o tempo não passa mais devagar na sala anterior, na verdade ele
passa de forma completamente aleatória. Em uma sala o tempo pode passar da
mesma forma que a outra, mas ninguém poderia garantir que o mesmo aconteceria
na próxima. O motivo pelo qual o Leão não havia notado o longo sumiço de
Akatsuki se dava exatamente por esse motivo. O tempo na sala que estavam agora
passava muito mais devagar que na anterior.
O
Akodo virou-se para frente e apertou os olhos quando notou uma movimentação
suspeita mais ao longe e o vento pareceu lhe trazer o final de uma frase que
lhe foi muito confusa naquele momento, mas que lhe trouxe um alivio ainda
maior. Havia ficado preocupado antes com algumas das pessoas que lhes
acompanhavam em viagem, mas esse sentimento foi ceifado com o anúncio que o
vento agora mais morno pela felicidade lhe banhou a face abatida.
―
Ei! – O Leão gritou a plenos pulmões, mas a mistura do vento e distância entre
eles pareceu impedir o monge de escutá-lo.
― Por
que você está gritando, homem? – Perguntou Karasu aflito.
A
ausência da lua conferia aquele lugar um ar ainda mais mórbido e sombrio,
apenas as estrelas iluminavam de forma porca aquela planície; mergulhando a
todos em um apenumbra aterradora. Os tentáculos da escuridão mexiam com o
cenário a volta e a fluidez de detalhes os deixavam com os nervos à flor da
pele. O vento que soprava periodicamente trazendo sons distantes e
incompreensíveis para a qualquer um deles, não ajudava em nada à acalmá-los.
As
estrelas assim como tudo nas salas, por assim dizer, que passaram antes,
mudavam constantemente e de forma aleatória; cor, intensidade e até mesmo
posição, mesmo as que pareciam formar algum tipo de constelação não pareciam
ter nenhum sentido lógico. Para aqueles como Hiruma Seta que normalmente
guiava-se pelas estrelas, como qualquer bom rastreador Hiruma, instantaneamente
ficou em choque, pois não sabia para onde ir. Momentaneamente perdido em terras
desconhecidas, sentiu a espinha gelar, coisa que nem mesmo as infestuosas
Terras Sombrias faziam com ele. Acalmou-se quando lembrou que nada daquilo era
real, apenas mais uma ilusão que aquele plano pregava em todos ali.
― Eu
vi Togachi Hoshi – Ryu disse – Indo naquela direção agora a pouco. Não cheguei
de fato a vê-lo é claro, mas ouvi sua voz
― Você não
está vendo coisas, ou melhor, ouvindo coisas? – Karasu disse olhando na mesma
direção – Eu não consigo ver nada, está muito escuro aqui. Provavelmente seja
apenas esse lugar maldito brincando com nossas mentes.
― Está bem
escuro, mas eu sei o que vi – O Leão falou convicto – vamos seguir, aquela
parece ser a direção certa de qualquer jeito.
O Kuni
ficou um pouco receoso de seguir naquela direção, aquele lugar era estranho e
as coisas não pareciam seguir a lógica comum. O que Akodo Ryu viu poderia muito
bem ser uma ilusão projetada para leva-los para uma armadilha. Vendo que não
poderia fazer muito para impedir que os outros seguissem naquela direção o
Shugenja manteve-se um pouco mais atrás e atento aos arredores para qualquer
perigo. O grupo caminhou por alguns minutos pela grama alta; O Leão levava sua
protegida às costas e caminhava um pouco atrás de Akatsuki para guardá-la de
qualquer perigo e Hiruma Seta ia mais a frente guiando-os para o descampado
enquanto procurava por sinais de perigo.
O espaço
era amplo e com terra batida úmida as marcas no chão indicavam a corriqueira
presença de cavalos. Um circuito com alguns obstáculos e vários alvos
circundavam o descampado. Perdidos em pensamentos enquanto olhavam para todo o
lugar estavam Togashi Hoshi e os outros que foram resgatados desde que o grupo
entrou naquele reino. Nenhum deles notou a aproximação do grupo e pegos de
surpresa armaram-se para o combate, mas foram acalmados habilmente por Akodo
Ryu.
― Ficamos
preocupados quando chegamos aqui e vocês não estavam – comentou o Ise zumi.
― Acabamos
em outros lugares antes de chegar aqui – Akodo respondeu rapidamente, mas
baixou a voz quando continuou – resgatamos este jovem Garça, mas um de nossos
companheiros pereceu no caminho.
― Enche-me
isto – o monge disse em um sussurro – o Escorpião pelo que vejo.
―
Infelizmente – ele disse com um suspiro – Evitemos falar sobre isto, sua noiva
ainda se encontra abalada.
― Entendo,
em todo caso, todos encontram-se bem? – o monge perguntou enquanto olhava para
os outros. A fadiga estava clara em todos eles, alguns dos mais jovens ainda
estavam inconscientes ou paralisados e os mais velhos estavam feridos e sujos
do combate anterior.
― Não no
melhor estado, mas ainda falta muito para vê-los desmaiar pelo cansaço – o Leão
disse com um sorriso de alívio.
― Esta é
uma notícia maravilhosa, apesar de tudo – uma voz veio do alto, distante, porém
poderosa.
Todos
olharam instintivamente para o céu, as estrelas de um certo conjunto pareciam
converter para um único lugar. O aglomerado de estrelas parecia projetar-se
para fora do tecido celeste e aos poucos ganhar a forma de uma enorme serpente.
A criatura desceu da abóboda celeste vindo na direção deles, sua cabeça era
como a de um lagarto, mas com um focinho mais protuberante e musculoso, tão
grande quanto um celeiro e do topo dela duas espigas paralelas de energia
ramificadas como galhos de árvore. Seu pescoço e seu corpo eram um ao longo de
vários metros, translúcido, negro como a noite e feito de poeira estelar. Não
haviam membros em seu corpo e nem mesmo um fim parecia haver no mesmo. Aquilo
era como os poderosos dragões vistos apenas em pinturas e de certa forma sua
aparência lembrava de uma pintura.
―
Bem-vindos – o dragão disse com uma voz telepática – vocês fizeram muito bem em
chegar até aqui, mesmo que não todos. As passagens para o mundo do qual vieram
não estarão abertas por muito mais tempo, vocês precisam se apressar, não há
tempo para tristeza.
― O que é
você? – Karasu perguntou.
― Eu sou
um dos guardiões desse lugar – o dragão disse fixando seus grandes olhos
luminosos no Caranguejo – Uma personificação desse plano e um dos agentes do
Vazio.
― Então
nós estamos no Vazio? – perguntou Ryu.
― Vocês
estão em algum lugar entre o Vazio e o seu mundo, presos até encontrem uma
saída – o dragão respondeu – mas não demorem, sua estadia aqui está perto de
ser permanente.
― O que
devemos fazer para achar a saída daqui? – Karasu perguntou olhando para os
obstáculos.
― Aqui
vocês devem vencer-me em uma corrida armada – o dragão virou-se para o percurso
– em alguns pontos do percurso haverão alvos, três deles no total. Vence quem
tiver maior pontos e a corrida será uma forma de desempate. Escolha o seu
representante.
Da terra, duas
massas de barro ergueram-se moldando dois cavalos perfeitamente preparados para
serem montados. Um terceiro monte surgiu ao lado de um dos cavalos e um humano
formou-se, vestido com uma pesada armadura de batalha e com o rosto coberto com
uma máscara hannya roxa com detalhes dourados, no peito um mon, hora do Clã
Unicórnio, hora do Clã Dragão.
― “Eu vou” – Seta tomou a frente e escreveu seu desejo.