Rael foi guiado pela rica mansão até chegar na sala de jantar.
Havia uma mesa com cerca de oito lugares, e somente três deles estavam
ocupados.
Um homem branco, forte, alto de longos
cabelos loiros ocupava o lugar ao fundo, ele usava um belo conjunto de roupas
que mesclavam entre azul e escuro. Ao lado direito dele estava uma bela jovem
com o mesmo tom de pele e cabelos, eles eram longos, ondulados e estavam
amarrados em forma de (Maria Chiquinha entrançados). Ela tinha um rosto muito
atraente e, assim como Samara, estava usando um forte batom vermelho brilhante,
o que destacava ainda mais seus lábios. Essa garota era mais baixa e mais magra
que Samara, apesar disso, ainda era incrivelmente linda. Essa sim era mais
nova, aparentava ter no máximo uns quinze anos e seu cultivo estava no terceiro
reino nível quatro.
Do lado
esquerdo, havia um homem em uma vestimenta cinza mais comum que lembrava quase
roupas de um padre. Ela tinha a pele morena como Samara e rapidamente Rael
ligou os pontos: Uma era filha de um e a outra, a filha do outro.
― Seja bem vindo Samuel do clã Torres, eu sou Arthur Hendes, o
patriarca desse humilde clã Sangnos. Esta garota é Beatriz, minha filha, e esse
homem ao meu lado é o senhor Ariel Queiros, um importante elder do nosso clã.
Quando soube da sua visita repentina na nossa cidade eu fiquei bastante feliz.
Por favor, sente-se. ― disse o patriarca depois de se levantar. Todos tinham se
levantado para cumprimentar Rael. Rael acenou com a cabeça educadamente de
volta a cada um deles.
― Pode se sentar aqui. ― disse Samara, puxando um lugar ao lado da
garota loira. Rael sentou sem problema e a própria Samara puxou outra cadeira
se sentado ao lado de Rael, ele ficou no meio entre as duas mulheres. Todos já
tinham se sentado de novo em seus lugares.
Rael não era burro, ele entendeu bem
rápido o que estava acontecendo ali. Aquelas duas belas garotas estavam
induzidas a dar em cima dele, agora o porquê ele ainda não sabia.
A mesa à
frente deles estava farta com diversos pratos diferentes e até bebidas. Duas
belas e jovens escravas estavam paradas em pé de mãos para trás nas costas do
patriarca mais ao fundo encostadas a parede ao lado de uma porta fechada.
― Samuel, eu ouvi muitas histórias sobre suas capacidades e
façanhas. A mais incrível delas foi a sua vitória no torneio realizado pela
família Torres, infelizmente eu não pude ir, mas meu irmão, o elder Ariel e sua
filha Samara estavam lá assistindo a sua luta e não pararam de repetir o quanto
ela foi incrível! ― elogiou Arthur com um sorriso amigável.
― Obrigado, senhor patriarca. Eu não mereço tantos elogios assim.
― disse Rael tentando parecer modesto.
― Vamos começar a comer antes que a comida fique fria. ― disse o
patriarca e cada um foi arrumando seu prato. Rael notou que a garota loira
estava trêmula de vergonha, mas quando ela olhava Rael sempre abria um belo
sorriso como se estivesse tudo bem.
― Ela só está um pouco nervosa. Eu falei muito de você antes dela
finalmente poder conhecê-lo. ― disse a bela Samara de lado. Rael não fez
qualquer expressão, apenas continuou preparando o seu prato.
O jantar
começou aparentemente em silêncio com todos ocupados fazendo seus próprios
pratos e escolhendo suas bebidas. Rael acabou pegando vinho por insistência de
Samara que educadamente preparou o copo dele. Ele havia ficado sem jeito e não
quis dispensar o tratamento da bela mulher.
― Samuel, eu ouvi que você é capaz de manipular com perfeição
vários elementos. Fiquei muito curioso em saber qual seria a sua liberação. ―
comentou o patriarca sem parecer ser nada muito sério. Rael com certeza não ia
contar a verdade para qualquer pessoa.
― Sigo o caminho do poder, o raio é meu elemento preferido. Os
outros eu aprendi a controlar graças a minha grande mestra. ― explicou Rael.
― Ela deve ser uma mestra formidável para ensinar um discípulo tão
bem assim, seria possível algum dia termos a chance de conhecê-la? ― perguntou
o patriarca sempre em um tom amistoso.
― Ela é muito ocupada e não gosta de sair. ― disse Rael.
― Os mestres sempre são assim, afinal. ― disse o patriarca,
compreendo o não que levou.
― Tio, deixe-o comer em paz, não o incomode com tantas perguntas.
― disse Samara educadamente e deu um sorriso de lado para Rael. Rael ficou sem
jeito porque Samara disse algo útil. Rael não gostava muito de estar no meio de
pessoas de poder como eles, pois só ficaria mentindo na maior parte do tempo.
Por isso, não queria ficar falando muito sobre ele.
― Qual é o problema? Só estou tentando puxar assunto hahahaha. ― o
patriarca riu sem graça. Ariel também deu uma risada pra não deixar ele rir só.
― Samuel, o que o trouxe a nossa cidade? Se é que posso perguntar
isso. ― dessa vez quem perguntou foi Ariel. O tom dele era como o do patriarca,
extremamente cuidadoso. Todos ficaram olhando Rael menos Beatriz, ela preferia
continuar comendo na dela.
Rael ponderou
sobre o que ia dizer. Qualquer palavra mal pensada ali poderia acarretar em
problemas futuros. Rael já tinha percebido que eles estavam atrás de colher
informações sobre ele.
― Eu tinha uma pequena porção de remédio criado por minha mestra,
então resolvi vir até a cidade ajudar Laís, que estava com a doença Noite
Escura. Injetei o remédio e consegui curar o problema dela, agora vou ficar
alguns dias na cidade e ver se tudo vai correr bem. ― disse Rael. A explicação
dele foi simples e cuidadosa.
― Sim, é uma doença extremamente perigosa causado por um veneno
raro, nós mesmos nunca entendemos como tal coisa pôde ter ocorrido com essa
família. ― admitiu Ariel.
― Ficamos sabendo do milagre que você fez e ficamos todos
maravilhados. A irmã dela era nossa discípula, mas desapareceu a um tempo em um
evento. ― explicou o patriarca.
― Foi uma grande perda, Thais era um grande gênio ainda em
crescimento. Infelizmente, ela se perdeu nesse evento. ― disse o elder. Rael
ficou em silêncio.
― Sua mestra então teria sangue de dragão? Esse tipo de coisa é
muito raro. ― disse Samara, que também conhecia a história.
― Na verdade eu não sei. Ela apenas me pediu para encontrar e
testar em alguém que tivesse a doença. ― disse Rael para tirar as atenções de
cima dele.
Ninguém na
mesa estava acreditando que Rael salvou Laís apenas por mero capricho, ou por
ordem de sua mestra. Mas por que eles desconfiaram? Como eles iriam adivinhar
que Rael na verdade podia fazer coisas incríveis?
― E quanto tempo você pretende ficar? ― perguntou o patriarca
depois de um curto silêncio.
― Não sei. Alguns dias, talvez. ― disse Rael.
― Fique conosco por esses dias, e o que precisar basta nos pedir,
faremos tudo o que estiver ao nosso alcance. ― disse o patriarca. Rael ficou em
silêncio mais uma vez. Esses malditos tinham como comprar o sangue de dragão
para Laís e nunca o compraram. Agora, estavam puxando o saco dele? Rael não
ficou muito feliz com isso. Quando ele não era nada as pessoas não agiriam
assim, tão pouco beldades com Samara sequer olhariam na cara dele. Aquilo fez o
coração de Rael se esfriar e ele até se esqueceu de manter um pouco as
aparências.
― Senhor patriarca, eu não vim a essa cidade afim de conhecê-los,
eu vim pela família da garota Laís e não tenho interesse nenhum de ficar aqui
com vocês. Aceitei esse jantar por mera formalidade. Então, não me entendam
mal, terminando o jantar eu irei me retirar. ― Rael soou tão frio que nem mesmo
o patriarca teve peito de rebater na hora.
Samara olhou
surpresa para Rael. Ela teve que admitir que ele tinha coragem. Ele disse tudo
isso na cara do patriarca sem pensar duas vezes, e isso sem nenhuma defesa
pessoal. Mesmo que ele fizesse parte do clã Torres, ter tal ousadia sem defesa
era um pouco demais.
― Queira perdoar minhas palavras mal pensadas, eu não tive nenhuma
intenção em ofendê-lo. ― disse o patriarca ainda em um tom amigável, mas ele
claramente se sentiu levemente ofendido.
Depois
daquelas palavras o patriarca e o elder Ariel pareciam estar se contendo para
não dizerem nada demais e o jantar ficou um pouco sem graça. Na verdade, Rael
já não estava vendo graça nenhuma desde o começo. Ele lembrava muito bem o que
esse clã havia feito com a família de Janete. Rael não era o tipo que esquecia
o que ouvia.
No final do
jantar, Rael se levantou pronto para ir embora. O patriarca e o elder ainda
estavam em um processo de recuperação. Pelo que eles tinham ouvido falar de
Rael, ele não conseguia se controlar bem quando estava cercado por beldades,
por isso eles tiveram a ideia de trazer Samara e Beatriz para esse jantar, mas
não esperavam que as coisas fossem ficar tão ruins. Rael, além de
confrontá-los, não mostrava nenhum interesse pelas duas.
― Samuel, posso falar com você em particular? ― perguntou Samara
reparando que Rael queria ir embora.
― Hum, sem problemas. ― disse Rael acompanhando a moça. Ele olhou
rapidamente para o patriarca e o elder antes de sair sem dizer nenhuma palavra
e seguiu Samara. Ele nem chegou a olhar para Beatriz.
Depois que
Rael saiu, o patriarca virou-se para o elder Ariel:
― Esse jovem é muito arrogante, não sei como ele ainda está vivo
com esse tipo de comportamento diante de pessoas como eu. ― disse o patriarca
em um tom extremamente frio. Ele agora apertava a colher na mão, irritado.
― Senhor patriarca, fique calmo. Lembre-se do apoio que ele tem
por trás. Nem tudo está perdido, vamos confiar na minha filha, ela sabe o que
fazer. Se o senhor depois desejar, podemos preparar uma morte miserável para
ele sem levantar suspeitas sobre nós. ― disse o elder, mantendo um ar calmo.
― Você tem uma filha útil, porém, eu... ― disse ele olhando
irritado para Beatriz. A garota até chegou a se encolher no canto de medo: ― Eu
tenho um lixo de filha que não serve nem para tentar seduzir um homem! ― o
patriarca estava furioso, porque isso o fez se lembrar de sua primeira filha,
Isabela. Ele só não partiu a mesa com um golpe porque imaginou que Rael poderia
ouvir. Beatriz ficou ainda mais trêmula no canto dela.
― Senhor patriarca, fique calmo. Tudo vai dar certo. ― disse o
elder.
― Se der certo será graças a sua filha. ― disse ele de volta
furioso.
― Samara nunca me decepcionou, ela sempre ouviu todos os meus
pedidos. Eu pedi que ela não se casasse com ninguém inútil e durante todos
esses anos ela se manteve obedecendo. Eu dei a ordem que agora ela deveria
forçar Samuel a gostar dela e se casasse com ele. Tudo que precisamos fazer
agora é esperar, ainda não nasceu um homem nessa terra que possa resistir a
minha filha. ― disse o elder, cheio de confiança.
― Sim, sua filha vale ouro, enquanto a minha... ― disse o
patriarca voltando a olhar Beatriz: ― Da próxima vez que eu te mandar fazer
algo é melhor você me obedecer! Não permitirei que você continue com o nome
dessa família se continuar tão desobediente como fez hoje. Eu expulsarei você
da próxima vez!― disse o patriarca furioso e levantou-se de seu lugar. Ele não
deu nenhuma olhada a mais para a filha.
Quando cruzou pelas escravas elas
estavam se tremendo tanto que até olharam para os pés sem ousar olhar para o
patriarca. Ele apenas abriu a porta e a fechou atrás.
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Rael, por outro lado,
estava calmo diante do quintal dos fundos do clã Sangnos. Ele e Samara dividiam
o mesmo assento em um balanço de madeira, preso em correntes no teto da parede
de fora.
Era possível
ver uma montanha a frente por trás dos enormes muros, com uma bela vista da lua
cheia que se fazia presente. A lua estava parte avista e outra por trás da
montanha.
Samara era
quem fazia o ritmo do balançar porque Rael estava apenas parado pensativo. Ele
ainda não entendia qual era os planos gerais para ele ali. E por mais que ele
tentasse ter lido o elder e o patriarca, ele não foi capaz de saber, apenas o
medo de Beatriz o disse que algo estava errado naquele jantar.
― Você, apesar de seu status, me parece alguém muito simples. Eu
não conseguiria ser assim mesmo se tentasse. ― disse Samara de repente.
― Por que não?
― Nós de famílias grandes estamos acostumados a só olhar na
direção de pessoas que merecem nossa atenção. O patriarca pode ter parecido
rude com você, mas não foi essa intenção dele. Ele só queria formar bons laços
com a família Torres. ― explicou ela e olhou para Rael. Ela sempre tinha um
poder no olhar que fazia ela parecer incrível.
― Eu não sou a pessoa indicada para ele fazer isso. ― disse Rael
― Você não é? É casado com Mara, a filha do elder Rayger e com Natalia,
filha do patriarca Romeo. Em alguns anos, você é o mais provável a tomar o
poder do clã, se tornando o novo patriarca. ― explicou Samara.
― Isso é como vocês querem ver, mas a verdade é muito diferente.
― A parte que o patriarca foi forçado a aceitar seu pedido de
casamento com a filha dele? Eu estava lá, sei muito bem que eles não ficaram
felizes com isso. Eu ouvi por ai, eles não tem outro meio de ter mais filhos, o
que torna a filha deles a única sucessora de sangue. Natalia agora é sua esposa
e isso torna óbvio quem será o próximo patriarca. Vai dizer que você nunca
pensou sobre isso? ― perguntou Samara olhando Rael de lado com um ar curioso.
― Você acha que eu pedi Natalia em casamento pensando assim? As
razões foram completamente diferentes do que está na sua imaginação. ― disse
Rael, mas não se ofendeu. Ele não ligava muito para o que
Samara dizia.
― Então você acredita em amor verdadeiro? Não se deitaria com
qualquer mulher que não fosse se tornar sua? ― perguntou ela de novo.
― Eu realmente não entendo suas perguntas. ― disse Rael meio sem
graça.
― Eu sou apenas uma curiosa mulher tentando entender a cabeça de
um grande homem. ― disse ela sorrindo de volta com um ar despreocupado.
― A conversa está boa, mas eu tenho que ir. Já fiquei tempo demais
por aqui. ― disse Rael saindo do balanço e Samara já pulou em seguida. Ela
percebeu que, apesar de Rael se atrair por ela, ele não tomou qualquer atitude
e quando ela fez a última pergunta ele ficou sem graça, o que mostrava que ele
respeitava uma mulher que já teria dividido a cama. Naquele rápido momento, ela
tomou a decisão de avançar ou desistir do plano.
― Espere um pouco, deixe eu pelo menos te oferecer uma bebida
antes de ir, nós conversamos tão pouco também. ― disse ela em um tom educado.
― Uma bebida? Bom, acho que não tem problema. ― disse Rael sem se
importar e ficou olhando para a montanha. Ela sorriu satisfeita e saiu
rapidamente para buscar a tal bebida.
Não demorou
muito pra ela voltar com um bule. Ela fez surgir dois copos de alumínio do
bracelete e os serviu.
― Chá? ― perguntou Rael enquanto levava a bebida aos lábios vendo
Samara fazer o mesmo do lado.
― É um chá de ervas do Lirio, faz bem pra saúde e ajuda a ter um
sono confortável. ― disse ela sorrindo. Rael reconheceu o sabor da erva
descrita por ela, mas havia algo a mais que ele não conseguia dizer com clareza
o que era. Mesmo sem ter certeza, ele bebeu sem medo porque viu Samara fazer o
mesmo do lado.
― Até que não é ruim. ― disse Rael depois de virar completamente
seu copo e devolver para Samara.
― Quer mais? ― perguntou ela.
― Não obrigado. Eu já estou de saída. ― disse Rael e já ia se
virar quando sentiu seu estômago começar a esquentar. Um tipo de formação de
energia estava se espalhando por dentro. Samara havia feito algo com a bebida
de Rael. No mesmo instante ele se voltou para ela.
― O que você me deu? Isso não foi um simples chá de Lirio. ―
reclamou Rael.
― O que? É claro que foi um chá de Lirio, está esquecendo que eu
tomei ele junto com você? ― perguntou Samara se fazendo de vítima.
― Qual é o seu plano? ― perguntou Rael sentindo as camadas de
energia se espalhando pelas veias. O fluxo seguia rapidamente para a cabeça de
Rael. Ele só conseguiu pensar que seria veneno.
― Nenhum.Você estava dizendo que ia embora, eu apenas iria
acompanhá-lo para a saída. ― disse a moça no mesmo tom inocente. Rael se
agachou se sentindo um pouco tonto, seus olhos começaram a queimar levemente.
Samara foi formando um olhar frio a
medida que os olhos de Rael começavam a brilhar, o que indicava que ele estava
começando a entrar no estado que ela queria.
Rael começou a ficar mais
descontrolado. Ele tentava lutar contra o avanço da energia, mas era impossível
pois ele não tinha força suficiente.
Quanto Rael olhava Samara, ele via
visões sendo trocadas, e as vezes Samara virava Violeta, a mulher que ele mais
confiava. Isso o fez ficar olhando para ela perdido.
― Você já está quase pronto pelo que
posso sentir. Não tenha medo, eu não vou te machucar. ― disse ela, mantendo o
tom calmo e formando um sorriso sedutor porque percebeu que Rael já a olhava
diferente.