O vulcão estava a aproximadamente duzentos metros de Rael e,
quanto mais próximo ele chegava, maior
era a temperatura e muito mais difícil se tornava a respiração no local. Mesmo
sem fazer nenhum esforço a respiração de Rael se tornou difícil.
― Eu não posso acreditar que meu limite seja esse! ― disse
Rael irritado e avançou rumo a cratera do vulcão. Rael pousou nas beiradas da
rocha e ficou puxando ar enquanto olhava para baixo, já na entrada. Seguindo a
visão de Rael, estava o poço de lava e chamas cerca de cem metros de
profundidade, onde borbulhava, soltava pequenas partículas de fogo no ar e uma
fumaça escaldante.
― Cof cof! ― Rael tossiu, afastando o rosto de lado. O ar
quente naquela parte estava muito mais intenso.
― ‘Você tem resistência ao fogo sim, mas o fogo da natureza
de um dragão é muito mais forte que o normal. Então não seja precipitado, vá
enfrentando o local aos poucos até seu corpo se acostumar totalmente. Eu sugiro
que todos os dias você tente chegar um pouco mais perto do centro, pois quanto
mais perto do centro você estiver, maior será seu aumento na cultivação.’ ―
Rael havia se lembrado das palavras de Alexia. Aquele ponto parecia ser o
máximo para ele no momento.
― Não é tão ruim, a energia que roda nesse... Cof cof!
Lugar, não é nada mal. ― disse Rael sozinho, olhando em volta. Em seguida, ele
se sentou e iniciou o seu cultivo.
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No mundo paralelo, as cidades sucumbiam uma a uma. O avanço
dos devoradores estava sendo constante e certeiro, até atingirem o clã Torres.
As tropas de Violeta não conseguiram acabar com o clã na
primeira batalha. Eles estavam arriscando tudo para se protegerem.
Eles usavam armas feitas de Cristal de Ureno, o que
dificultava bastante a vida dos devoradores. Além disso, estavam consumindo
Tabletes Mágicos para aumentarem seu poder constantemente, como se fosse parte
das refeições. Eles também ingeriam o mesmo cristal em forma de pó para
combater a transformação. Se caso eles fossem mordidos, eram os devoradores a
passar mal a ponto de serem mortos facilmente.
A própria Violeta foi obrigada a fazer o seu movimento no
segundo ataque e quase foi morta nas mãos de Rayger e Neide. Eles eram as
potências do clã Torres e eram os que mais estavam fazendo o uso massivo dos
Tabletes Mágicos em busca de derrotar a violadora devoradora.
No fim, a vitória acabou sendo dos devoradores, mas tiveram
um grande prejuízo em seus números. Além de não obterem nenhum lucro potencial,
perderam cerca de 50% da tropa que havia acumulado. Aquele resultado era
surreal e Violeta estava furiosa por perder bons membros e não adquirir nenhuma
outra força considerável para seu exército. Ainda por cima, no último instante,
onde sua vitória se concretizava,tornou-se uma tremenda armadilha:
― Aquela maldita mulher! ― Violeta rugiu, se lembrando que
Neide se explodiu no último instante, levando todos os que estavam próximos a
ela. Mesmo enquanto estavam prestes a morrer, eles continuaram a encarar
Violeta e os devoradores com ar de vitória. Violeta teve um pouco de
dificuldade em batalhar com os reinos finais porque eles ingeriam tantos
Tabletes que seus poderes praticamente triplicaram. Eles lutaram durante todo o
tempo com suas forças totais, porque os Tabletes também tinham capacidades de
recuperação. Os membros do clã Torres estavam lutando sabendo que no fim iriam
morrer. Por isso não estavam se importando em como ficaria suas veias
espirituais depois daquela batalha.
― Senhora líder, já revistamos todos os pontos do clã e não
encontramos o casal, muito menos a filha deles. Acredito que eles devem ter
fugido enquanto os pais lutavam junto aos outros. ― disse um devorador, se
referindo ao patriarca Rael, sua esposa Mara e a filha deles, Samantha.
― Nunca achei que teria tanto trabalho assim! ― disse
Violeta, levantando a blusa vermelha e olhando suas costelas do lado direito,
onde estava boa parte cristalizada. Neide e Rayger, juntos, quase rasgaram-na
ao meio.
― Mas a senhora não quis usar todo o seu poder. Caso
contrário, nem teria se ferido.
― Sim, eu usei apenas o meu poder básico. Não utilizei
qualquer aumento das minhas antigas habilidades pois, com a transformação em
serva de Cristalandio, eu achei que não fosse necessário. Meu poder duplicou
quando me transformei, e eles eram meros reinos finais.
― Eles só deram trabalho devido ao Cristal de Ureno que
usaram de várias formas, e também por causa desses Tabletes. Eles estavam
comendo tanto aquela barra que eu não duvidaria que eles acabariam até morrendo
sozinhos depois de um tempo. ― refletiu o mesmo devorador, o que não deixava de
ser verdade. O uso excessivo dos Tabletes poderia matar alguém por deixar em um
estado muito pior do que a Mara desse mundo ficou na época da visita de Rael.
― O poder deles excedeu o de um cultivador renascido... Eu
deveria ter sido mais cuidadosa! Isso não vai mais se repetir. ― disse Violeta
em um tom sério e ainda irritada.
― Compreendo, senhora líder. Agora, quais são as novas
ordens?
Os dois estavam de frente para a destruída residência do
patriarca do clã Torres nesse momento. Nada tinha sobrado, o território inteiro
tinha se tornado um mar de destruição.
― Parem de procurar por aqueles três, eles já devem estar longe.
Aposto que os reinos finais fizeram esse showzinho aqui para que eles pudessem
fugir enquanto estávamos distraídos.
― Compreendo, senhora. ― disse o mesmo.
― Agora vamos focar nos outros continentes. Vou separar
todas as tropas em grupos menores e espalhar na direção dos outros continentes.
Quero que faça um chamado informando a todos para se reunirem no esconderijo
principal. Ainda esta noite.
― Farei isso imediatamente! ― disse o mesmo e retirou-se
voando.
― O que eu quero mesmo é encontrar o homem capaz de passar
por essas fendas de mundos. Chegou a hora de fazer uma pausa aqui e visitar o
outro lado. ― disse Violeta sorrindo.
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De volta ao mundo normal, na residência do patriarca, Romeo
atendia a mais um chamado no anel de comunicação. Reges acabara de passar a
informação que as duas últimas pistas foram úteis, mas não conseguiram chegar a
tempo. Verom fugiu levando Isabela com ele antes de serem localizados.
― Esse maldito! Ele ousa continuar fugindo de mim?! ― Romeo
gritou e apertou o braço de madeira da sua poltrona, destruindo-a com mão.
Irritado, logo em seguida se levantou e fez um aceno com a mão para que todos
os guardas próximos a ele saíssem. Imediatamente eles obedeceram, saindo do
salão principal.
― ‘Senhor, tenha calma. Dessa vez chegamos bem perto e
estamos na cola dele.’ ― disse Reges do outro lado.
― Ele é um maldito reino final, vocês dificilmente
alcançariam sozinhos. ― disse Romeo.
― ‘Se ele estivesse sozinho eu concordaria com o senhor. Mas
ele está levando a mulher com ele, o deixando mais lento. Não vai demorar muito
até alcançarmos e pegá-los.’
― Chega! Eu cansei dessa brincadeira. Mandarei mais dois
grupos para auxiliar você nessa busca. Quero que vocês os cerquem e não os
deixem escapar mais!
― ‘Se o senhor insiste, a ajuda será muito bem vinda. Eu
farei como o senhor está pedindo.’
― Voltarei a falar com você quando preparar os grupos. ―
disse Romeo e encerrou a comunicação.
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No esconderijo das violadoras, Emilia estava tendo uma noite
ruim. Ela não conseguia dormir porque passou uma boa parte do dia dormindo, e
agora estava sem sono. Ela se levantou de mau humor e se dirigiu a cozinha.
― O que Violeta toma mesmo para ajudá-la a dormir? ― se
perguntou ela, caçando algumas coisas aleatórias pelas gavetas. Emilia desistiu
da busca depois de ficar com preguiça e sentou-se na mesa.
― Droga! Eu nunca mais dormirei durante o dia. ― disse ela
consigo mesmo, apoiando o queixo nas mãos em cima da mesa. Embora todas as
vezes que perdia o sono ela repetia a mesma frase e nunca mudava o hábito.
― Emilia, ainda acordada? ― perguntou Rika, chegando na
cozinha.
― E pelo jeito você também... ― disse Emilia olhando a
celestial de volta, sem muito interesse.
― Preocupação... ― disse a bela mulher, puxando uma cadeira
e se sentando de frente a Emilia.
― Você e sua raça. É basicamente tudo em que pensa. ― disse
Emilia.
― É da minha natureza pensar nisso, somos as últimas da
minha espécies e, mesmo mudando de forma, ainda temos essa preocupação. ― disse
Rika.
― Rael vai ajudar vocês, não precisa se preocupar tanto.
Pelo menos de Rose ele gosta muito.
― Esse gostar é tão importante assim?
― Para a maioria dos homens, não. Desde que você tenha uma
beleza razoável e quando ele estiver afim, é fácil terminar em sexo mas, no
geral, nosso Rael tem alguns padrões.
― Ele não tem nenhuma frescura de se deitar com suas
esposas. ― reclamou Rika.
― Primeiro, ele gosta das duas. Segundo, elas gostam dele e
não ficam exigindo filhos a todo o momento, e isso já muda tudo. ― disse
Emilia.
― Eu já parei com essa coisa de pedir filhos, mas não mudou
muito. Rael não fica muito tempo com a gente e isso acaba sendo ruim. Minha
filha fica com saudades dele, e diferente de mim, ela pensa na presença dele e
nos momentos que tiveram juntos. Esse sentimento dela por ele foi ainda mais
ampliado depois do sexo.
― Normal, uma vez que você prova do prazer carnal você se
apega, ainda mais se for com alguém que você já gostava.
― Eu ainda não entendo... Sei que é bom essa coisa de sexo,
mas minha filha não pensa nisso porque quer filhos. Na cabeça dela, ela só quer
estar na presença dele, mesmo se não for para transar.
― Isso é o gostar que você também precisa ter. Sua filha
gosta dele sem se preocupar se vai ganhar filhos ou não. Ela está entregue de
corpo e alma para Rael.
― Você acha que, se eu tentasse fazer o mesmo, não ficaria
um pouco estranho? Será que ele não desconfiaria?
― Desconfiar de você? Com certeza. Rael sabe como você é e
ele iria acabar descobrindo.
― Então o que eu faço para me aproximar dele, sem ele
perceber que estou com segundas intenções? Se ele descobrir que o remédio pode
não fazer efeito em nós, pode até se afastar da minha filha de novo.
― Se você não gosta, nem tente. Ele vai saber na hora. Deixe
isso com sua filha, seria melhor. ― disse Emilia.
― Não existe nenhuma maneira mesmo? ― insistiu Rika.
― Se você soubesse seduzi-lo, conseguiria o que quisesse, pois
mesmo que ele desconfiasse não iria conseguir resistir. O problema é que você
não sabe. Transformada a pouco tempo, você mal aprendeu a falar.
― Então me ensine, Emilia! Eu faço o que for preciso pelo
bem da minha espécie.
― A sedução funciona de duas formas: Uma é a longo prazo e a
outra é uma mais explosiva e mais rápida.
― Me explique a explosiva. ― Rika se interessou.
― A explosiva você precisa se insinuar um pouco, usar roupas
que mostram muita pele e muitas partes do corpo. Homem nenhum resiste a isso.
Você precisa ser ousada e tomar atitudes inusitadas. Um exemplo parecido foi
quando eu tentei forçar a minha vez com ele, embora você não vai fazer
exatamente aquilo. ― explicou Emilia.
― Eu não entendo. Se vou ser ousada porque não posso
forçá-lo?
― Porque essa parte precisa ser deixada para ele. Homens tem
instintos dominadores e eles gostam de achar que ganharam a mulher, e não o
contrário.
― Continua bastante confuso... ― disse Rika.
― Você já tem beleza, tudo o que lhe falta é apenas aprender
a seduzir.
― Eu não poderia simplesmente chegar nele e perguntar se ele
não quer transar? Se é tão bom assim, porque ele recusaria?
― Como você acha que ele nos recusou? Se fizer dessa forma
ele vai desconfiar na mesma hora e se afastará de você.
― Ah, droga! Se pelo menos ele ficasse mais tempo aqui... ―
disse Rika desanimada.
― Rael tem um crescimento rápido. Logo ele se vinga e passa
um tempo mais com a gente. ― disse Emilia em um tom normal, sem muito ânimo.
― Você não se anima com isso?
― Desde que ele decidiu nos manter apenas como amigas isso
já não me afeta mais. Tomando aquele remédio, quase todos os sentimentos por
ele desaparecem.
― Ah, sim... O remédio que alivia a maldição.
― Sim. Se não fosse por isso, eu estaria no pé dele ainda.
― Acha que ele vai conseguir quebrar a maldição de vocês?
― Se ele vai eu não sei, mas Violeta acredita nele, então
vou acreditar também.
― Você deve odiar essa forma que ele escolheu fazer as
coisas, não? Porque você também gosta, mesmo que seja forçado.
― Sendo bem sincera, agora que estou no meu estado normal,
eu o admiro muito. Conseguiu resistir a nós, mesmo com tudo que somos e ainda
prometeu nos ajudar. Ele poderia fazer o que quisesse comigo e com Violeta
devido a maldição mas, em vez disso, ele nos trata com respeito e entende o que
sentimos. Ele sabe que esses nossos sentimentos são devido uma maldição e por
isso ele não nos toca. Ele também nos disse que se depois que fomos livres e
ainda quiséssemos ficar com ele, ele não se seguraria.
― Se isso acontecer, você vai ficar com ele?
― Não sei... Quando a maldição for quebrada, poderemos
perder todas as ultimas memórias. Ou talvez não, isso não é certeza. Mas,
considerando o que eu era antes, mesmo se eu não lembrar e souber que ele é o
Herdeiro, então eu irei querer ficar com ele. Antes de me tornar uma violadora,
eu tinha interesse em ser a mulher de um ser poderoso. ― disse Emilia.
― E Violeta? ― perguntou Rika.
― Violeta é diferente de mim. Se ela esquecer, tenho certeza
que não olhará para Rael, nem por uma última vez.
― Isso vai fazê-lo sofrer. Mesmo não entendendo muito bem
desse gostar, sei que ele adora Violeta.
― Verdade, ele...! ― Emilia parou de falar porque sentiu
alguém tentando forçar a barreira que ela havia criado na caverna da fenda. Ela
até sabia que era pelo lado de dentro da passagem. Alguma coisa do mundo
paralelo estava tentando atravessar.
― Emilia? ― perguntou Rika, surpresa porque Emilia se
levantou apressada.
― Alguma coisa está tentando atravessar a minha barreira
feita na caverna da passagem para o mundo paralelo. Avise Violeta eu vou na
frente. Preciso verificar o que é imediatamente! ― Emilia nem esperou Rika
responder e saiu apressadamente como um vulto. Rika se levantou preocupada e já
correu em direção ao quarto de Violeta para acordá-la e avisar do ocorrido.