No dia seguinte, Rael estava planejando seu dia. Ele faria
uma visita aos seus discípulos e compraria uma quantidade de Minério de
Sendrer, que era o terceiro melhor tipo de metal para a criação de armas. Era
hora de criar armas mágicas para serem distribuídas futuramente entre seus
discípulos, isso sem esquecer as armaduras que ele também planejava fazer para
todos. Rael não pretendia ter centenas de discípulos como em alguns outros
lugares, mas os poucos que teria, ele queria cuidar muito bem.
Rael fez algumas contas e descobriu que não teria dinheiro
para tantos gastos. Bom, agora ele tinha um clã que gerava boas rendas. Em apenas
uma chamada para Ana,Rael descobriu o rendimento mensal.
― ‘Ainda estamos nos estabilizando, mas conseguimos faturar
um total de duzentas e cinquenta mil moedas de ouro, desde o momento em que
virei matriarca. Eu só precisarei de noventa mil moedas de ouro para a
reposição de artigos, compras necessárias e pagamento de funcionários.
Retirando as despesas, você tem cento e sessenta mil moedas de ouro como lucro
para fazer o que desejar.’ ― explicou Ana.
― Você baixou os tributos, como havia pedido? Você tinha
dito que na época de Helks as pessoas pagavam absurdos para poderem viver no
clã. ― disse Rael.
― ‘Sim, baixei. Se não fosse a redução, teríamos ainda mais
lucros, mas isso foi essencial para termos uma aceitação maior do povo.’ ―
disse ela.
― Tudo bem, eu só estava confirmando mesmo. Achei a quantia
muito boa, vai dar para eu fazer as coisas que precisam ser feitas.
― ‘Deseja que eu mande alguém com o dinheiro até sua casa?’
― Não, eu mesmo vou buscar. Preciso ver você, os discípulos
e também Thais.
― ‘Fico feliz em saber que você vem nos ver.’ ― disse a
mulher, animada do outro lado.
― Sim, Ana. Até mais tarde. ― disse Rael e encerrou o
chamado. Ele estava parado na sala, sentado no sofá.
Mara e Natalia já tinham saído para treinar. Rael estava
sozinho em casa com Beta e Andréa, que tinha passado a manhã inteira quieta,
pensando sobre Rael. A cada instante a mente dela queria vacilar sobre o que
ela deveria fazer com Rael.
― Andréa, vou passar algumas horas fora. Voltarei mais
tarde. ― Rael tinha ido até a cozinha para avisar a moça que sairia de casa.
― Samuel, espere! ― disse ela, se levantando da cadeira
enquanto Rael parava no corredor e se virava pra ela.
― Eu sinto muito por ontem. Não era a minha intenção fazer
você pensar que eu não queria nada contigo. Eu só estou muito confusa com tudo
o que vem acontecendo. Minhas memórias não voltam e eu sinto tudo isso por
você... Não sei o que fazer... ― disse ela, tentando se mostrar tímida. Naquele
momento ela estava jogando, porém, parte de suas palavras eram bastante
verdadeiras.
― Tudo bem, eu também errei em ser tão apressado. ― disse
Rael.
― Para onde você está indo? Eu posso ir com você? Não queria
ficar sozinha de novo. ― disse ela.
― Quer vim comigo? Eu irei visitar meus discípulos, comprar
algumas coisas e sei lá mais o quê. ― disse Rael.
― Eu posso? Não vou atrapalhar você? ― perguntou ela se
levantando.
― Se fosse me atrapalhar eu nem te chamava. ― disse Rael de
volta.
― Então eu quero ir sim! ― disse ela animada.
_____________________________________________________________________________
Andréa já estava confusa sobre querer matar Rael. Seus
sentimentos ficaram ainda mais bagunçados depois da noite passada quando eles
quase transaram. Mesmo assim, ela tentava se concentrar em seu propósito para
obter uma chance, ela teria que se esforçar muito na próxima oportunidade que
tivesse.
Ralf ao ver Andréa ficou muito animado e brincou com a moça
quando Rael o convocou longe das muralhas do clã Torres. Rael esperou Ralf
brincar um pouco com Andréa e depois partiram.
Durante a viagem, Andréa esteve abraçada com Rael, que
estava atrás dela. A moça ficou pensando se toda a vida dela fosse diferente.
Se ela não tivesse seus propósitos, se ela simplesmente pudesse apagar o seu
passado e pudesse viver com aquele rapaz. Afinal, ele não parecia tão ruim.
Quanto mais ela o conhecia, a vontade de matá-lo só diminuía.
_____________________________________________________________________________
Não demorou muito para chegarem ao clã Sarbaros. Rael foi ver primeiramente a
família Alencar. Ele apresentou Andréa para a família, que ficaram chocados com
a bela mulher, o que era bem normal. Depois, ele conferiu os cultivos, dando
novas técnicas para que eles pudessem utilizar conforme os respectivos avanços
e em seguida foi encontrar a matriarca Ana.
― Não me diga que ela é a sua futura esposa? ― perguntou Ana
depois de ver Andréa.
― Sim, eu tenho planos para ela. O maior problema é Mara
concordar. ― admitiu Rael.
― Mara, a única mulher que você não consegue controlar
hahaha. ― disse ela. Ana conhecia Rael muito bem para achar aquela situação um
tanto quanto engraçada.
Rael verificou o progresso de Ana e deu a ela novas técnicas
de cultivo.
― Você melhorou, parece está cultivando mais rápido. ―
elogiou Rael depois de conferir o progresso dela.
― Estou contratando pessoas para fiscalizar o andamento dos
trabalhos. O único problema nisso é que depois eu tenho que conferir tudo para
confirmar. Aqui está o dinheiro que você me pediu. ― disse Ana, estendendo um
bracelete a Rael, que o aceitou e conferiu após colocar no pulso junto ao dele.
― Muito bom. Em breve trarei as boas novas sobre o que fiz
com o dinheiro. ― explicou Rael.
― Você não precisa me dar satisfações, Rael. É uma honra
servi-lo! ― disse Ana com sinceridade. Desde que Rael começou a tratá-la bem e
a tornou sua discípula, ela só tinha agradecimentos em seu coração.
― Muito bem, volte aos seus afazeres. Irei ver Thais e Laís,
logo em seguida partirei.
Depois de se despedir de Ana, Rael foi para a casa da
família Reis. As irmãs estavam treinando com lanças no quintal. Thais queria
passar seus ensinamentos e técnicas para sua irmã, que agora tinha sede em
aprender.
Ao verem Rael, as duas fizeram uma pausa e se aproximaram.
Era normal todos terem uma expressão surpresa após ver Andréa, mas a expressão
de Thais era de próprio susto. Como se ela não acreditasse em seus próprios
olhos.
― O que foi, Thais? ― perguntou Rael para a mulher. Thais
não tirava os olhos de Andréa, parecia que ela estava vendo um fantasma ou algo
do tipo.
― Princesa Nastácia? ― perguntou Thais surpresa.
A pergunta de Thais chocou tanto Rael quanto a própria
Andréa.
― Princesa Nastácia? Thais, você a conhece? ― perguntou Rael
surpreso.
― Essa beleza impressionante e esse tom de cabelo não é algo
que eu esqueceria depois de ver apenas por uma vez. ― explicou Thais.
― Mas ela não é filha do imperador Grinfem... ― disse Rael
confuso.
― Não, Rael. Ela é da família Orany, filha do imperador do
continente Norte. Me pergunto o que ela está fazendo com você aqui. ― disse
Thais surpresa.
―Você confundiu meu nome de novo, Thais. Não se esqueça que
me chamo Samuel. ― disse Rael, antes de mais nada. Andréa não deu tanta atenção
a esse fato, a descoberta de que ela era uma princesa parecia tê-la chocado o
suficiente para esquecer de tudo ao redor.
― Desculpe, Samuel, é que os nomes são tão parecidos. De
qualquer forma, você tem que me dizer o que ela faz aqui. Eu ouvi dizer que o
pai dela era extremamente rígido, e jamais permitiria que a filha dele se
expusesse dessa maneira.
― Eu nunca havia pensado no continente Norte, quanto mais
imaginar que ela seria uma princesa daquelas bandas. Eu a encontrei sendo
atacada por bandidos e a salvei. Ela não se lembra quem é, nem de onde veio. ―
explicou Rael.
― Inacreditável! ― disse Thais.
― Como a conhece, Thais. Você visitou o outro continente?
― Posso falar com você em particular? ― perguntou ela.
― Sim, é claro. Andréa, espere aqui com Laís. ― disse Rael a
acompanhou Thais para um canto.
― Andréa? ― questionou Thais no meio do caminho, por
perceber Rael a chamando assim.
― Foi o nome que demos, por não sabermos o verdadeiro nome
dela. ― explicou Rael.
Eles ficaram a uns vinte metros de Andréa e Laís para terem
uma conversa mais privativa.
― Samuel, você tem que levá-la de volta imediatamente. Se o
Imperador Nero apenas sonhar que a filha dele desfila sobre esse continente,
não só vocês como todo este lugar estará perdido. Diferentemente de nós, que
temos alguns patriarcas no reino final, lá eles têm até guardas no reino final.
Dizem que o imperador Nero está quase atingindo o ápice do reino final.
― Você acha que eu tenho culpa dela ter aparecido de
repente? Eu não tenho, isso está sendo uma tremenda surpresa para mim. ― disse
Rael rapidamente.
― Eu ouvi dizer que ela sempre andava coberta, o imperador
não permitia que ela sequer mostrasse um só pouco de pele em público.
― E como você a conheceu?
― Fui instruída pelo patriarca Rael a fazer uma visita ao
imperador Nero quando estava no outro mundo. A viagem na Barca Esperança levou
quase 3 meses. Nos apresentamos diante do imperador e contamos os problemas que
tínhamos com os devoradores. Nós fomos em busca de apoio, e nessa época,
Violeta devoradora ainda não existia. O imperador Nero se negou a ajudar e
disse que nós mesmos deveríamos cuidar do nosso problema, em seguida nos mandou
partir para o nosso continente. Quando estávamos indo embora, encontramos a
princesa Nastácia escondida em nossa barca. Ela queria fugir conosco.
― Então você a viu pessoalmente?
― Sim, eu a vi. Jamais esqueceria de tamanha beleza, ainda
mais aquele distinto tom de cabelo. Ela tem o mesmo tom de cabelo do imperador
Nero, seu pai.
― Por que ela queria fugir?
― Por receber um tratamento extensamente rígido. Diziam
alguns rumores que o próprio pai tinha interesses na filha. ― disse Thais.
― Não é por menos que ela fugiria. ― disse Rael.
― Se ela fugiu, ele deve estar atrás dela. Você precisa
levá-la de volta e pedir para ela não contar sobre a estadia aqui. Isso poderia
trazer um desastre a esse continente, um desastre tão ruim quanto ser invadido
por devoradores. ― disse Thais.
― Se ela não quiser voltar, eu não irei devolvê-la. Ela
ficará comigo. ― disse Rael.
― Eu a reconheci, porque você acha que outra pessoa não
poderia fazer o mesmo? Se isso chegar aos ouvidos do pai dela você terá
problemas.
― Eu tenho Violeta e Emilia comigo. Antigamente eu não
contaria com elas, mas agora é diferente. Se ela não quiser voltar para o seu
império, eu não irei forçá-la.
― Isso não é muito inteligente de sua parte. ― disse Thais.
Rael estava passando os fatos em sua cabeça. Andréa ser uma princesa explicaria
ter tal beleza, ela tinha sangue real de uma grande família, de um outro
continente.
― Essa é minha decisão. ― disse Rael firmemente de volta.
― Tá bem, faça o que quiser. Eu só queria deixar você ciente
com o que está se envolvendo. ― disse Thais em seguida, desistindo de mudar a
cabeça de Rael.
― Se ela quiser voltar, eu a levarei. Caso contrário, ela
ficará comigo. ― disse Rael e depois virou-se, voltando para as outras meninas.
Rael se despediu das irmãs e subiu voando, levando Andréa
nos braços. Desde que ouviu a verdade, Andréa parecia está desconcentrada,
olhando perdida para o nada. Tanto Rael como ela estavam muito surpresos com
essa descoberta.
―Andréa, vou continuar te chamando assim, se não se
importar. Por acaso, você deseja voltar para o seu continente? Se você quiser,
eu levo você para casa. ― disse Rael para a mulher em seus braços.
― Eu não quero voltar. Não me lembro de nada e tenho medo. ―
disse ela, olhando Rael preocupada. O medo nos olhos dela era explícito.
― Tudo bem, não se preocupe. Eu não vou levar você se não
desejar. Você pode continuar vivendo comigo, mas temos que manter isso em
segredo dos outros. Não sei o que minha sogra poderia dizer sobre isso. ― disse
Rael, também preocupado.
― Samuel, você não vai contar a ninguém?
― Não, eu não irei contar nada, nem Thais. Mas você também
precisará manter isso em segredo.
― Isso é por que você me quer para você?
― Não somente isso. Ao que parece, seu pai, o imperador
Nero, a tratava como uma prisioneira. Suponho que por essa razão você deva ter
fugido, isso também explica o porquê de você ter tanto ouro. ― disse Rael.
― Mas isso não te coloca em risco? Se alguém descobrir e
contar ao imperador, eu...
― Andréa, pare de pensar assim. Você está comigo agora e eu
vou te proteger. Sendo minha futura esposa ou não, eu ainda não iria te
entregar de bandeja para o tirano do seu pai. Você não tem que se preocupar. ―
disse Rael.
As palavras de Rael mais uma vez mexeram com o coração de
Andréa. Ela ficava a cada instante mais indecisa sobre o que deveria fazer.
Rael estava tão pensativo com a recente descoberta da
verdadeira identidade de Andréa que nem chamou Ralf. O rapaz continuou levando
a misteriosa moça nos braços enquanto voava, retornando para o clã Torres. É
claro, agora com ele sabendo aquilo teria que mantê-la um pouco mais em casa, e
certamente ela entenderia o motivo.
― Samuel, há alguém nos seguindo. ― disse Andréa olhando
para trás.
― Tem certeza? ― perguntou Rael, parando imediatamente no
ar. Ele lançou seus sentidos, mas não conseguiu sentir ninguém, ficando
admirado e um pouco confuso com o aviso de Andréa.
― Sim, tenho. É alguém bastante poderoso. ― confirmou
Andréa. Rael podia sentir que ela não estava mentindo e, por isso, se sentiu
preocupado.
― Vamos nos esconder. ― disse Rael, descendo com a mesma.
Havia uma vasta vegetação entre árvores, arbustos e até rochas. Rael pensou que
poderia ficar seguro naquele meio desde que ele ocultasse seu poder, o problema
era Andréa, que não possuía aquela habilidade.
O sujeito chegou em um instante coberto por uma poderosa
aura amarela, mostrando sua liberação da Terra. Ele lançou seu olhar na direção
de Rael e Andréa, os encontrando com bastante facilidade:
― Patriarca Arthur! ― disse Rael completamente chocado, com
os olhos arregalados.