Rael passou em diversas lojas a procura pelo Minério de
Sendrer, era um metal rochoso raro de achar. Quando ele já estava se preparando
para desistir daquela rua viu um armazém maior na esquina, com uma placa que
dizia vender os mais variados tipos de metais.
Rael entrou na loja e encontrou o tal minério. Seu preço era
extremamente alto e Rael precisava de uma boa quantidade devido o número de
armas que ele pretendia fazer. Quem o atendia era um homem alto de pele morena
e cabelos longos.
Através de uma boa negociação,
Rael conseguiu um agradável desconto pela quantidade que compraria e gastou um
pouco mais de cem mil moedas de ouro no metal adquirido.
Depois, com o resto das coisas, ele conseguiu comprar com
facilidade, mas gastou quase todas as suas economias:
― ‘Eu não sabia que ter discípulos seria tão caro...’ ― Rael
pensou enquanto suspirava, analisando pouco ouro que restava. De mais de
duzentos mil moedas que ele tinha, lhe restava apenas vinte.
Chegando em casa, Rael iniciou o seu trabalho. Ele começou a
criar uma arma atrás de outra, e em seguida as armaduras mágicas. Ele já tinha
feito uma lista de todos os seus discípulos e das armas que usavam ou com as
quais estavam treinando com mais praticidade.
Mara surgiu depois de voltar do treino acompanhada de Natalia, as duas pararam na sala vendo
Rael trabalhar. Quando Rael ia fazer artefatos mágicos, armaduras mágicas ou
espadas, sempre os fazia no centro da sala, que era o lugar mais espaçoso.
Ervas, pílulas e coisas baseadas em alquimia ele utilizava a mesa da cozinha,
as vezes.
― Onde está Andréa? ― perguntou Mara. Ela nem via Andréa
perto nem podia sentir a presença da mesma.
― Está passeando, eu não sei onde ela está. ― admitiu Rael.
― Não sabe? ― Mara achou a resposta de Rael estranha.
― Na verdade, ela tem o poder de voar como eu, mesmo sendo
um quarto reino. Acontece que ela desapareceu sem me dizer nada. ― disse Rael
em seguida. Natalia e Mara ficaram ambas surpresas. Rael falou de maneira
simples, mas elas acreditavam porque Rael não era de mentir.
― Ela estava bem? ― perguntou Natalia preocupada.
― Sim, estava. Ela deve voltar em breve, não se preocupe. ―
disse Rael.
― Já era hora dessa mulher partir dessa casa, espero que ela
mesma tenha tomado essa decisão. ― disse Mara, satisfeita após saber sobre a
partida.
― Prima, ela não tinha para onde ir, não se lembrava de
nada, estava sozinha... ― Natalia defendeu Andréa, o que seria natural, as duas
tinham se tornado boas amigas naquele curto espaço de tempo.
― Eu não gosto daquela mulher. Não consigo saber o que ela
pensa... É como se ela fosse uma casca vazia que não posso ler. ― confessou
Mara.
Sobre isso era verdade. Mesmo quando ela tentou matar Rael,
ela não deixou escapar o mínimo instinto assassino. Na luta contra o patriarca
Arthur, isso também foi uma vantagem para ela. Porque além dele estar fraco,
ele não conseguia sentir o instinto assassino dela, tudo que ele podia sentir
era o poder de um quarto reino. Por essa razão, ele quase morreu no primeiro
ataque. Embora isso não tenha sido dito antes, o escudo de Andréa parecia ter
mais de uma função além de proteger a mesma de certos invasores.
― Mara, não precisa dizer isso dela, ela é uma boa pessoa.
Ela me salvou. ― disse Rael, surpreendendo as duas. Rael não pretendia contar
antes, mas ele acabou pensando que talvez a verdade pudesse ser a chave para a
aceitação de Andréa. Se as duas soubessem que Andréa salvou sua pele, talvez
aceitassem ela com mais facilidade, assim, Rael poderia assumir Andréa como uma
futura esposa e ter as três no mesmo teto.
― Do que está falando? ― perguntou Mara confusa.
― Eu fui atacado...
Rael acabou contando tudo que rolou e sobre como Arthur
queria tirar sua vida. Ele explicou que Andréa lutou de igual a igual contra
Arthur e também o protegeu...
― Aquela mulher enfrentando um reino final? Você não está
mesmo brincando? ― Mara não podia deixar de está mais surpresa.
― Não estou. ― disse Rael. Mesmo agora ele ainda pensava
sobre isso.
― Que explicação isso tem? Porque você sabe que não posso
acreditar que um mero quarto reino possa mesmo enfrentar um reino final, sem
nada por trás. ― disse Mara e ela estava definitivamente certa.
― Pode ser que ela seja um reino renascido. ― disse Rael.
― Reino renascido? Não é possível... Ela... ― Mara já tinha
ouvido fala sobre isso. Era o poder que sua mãe estava almejando alcançar.
Um reino final no seu ápice pode
escolher permanecer no auge mantendo todo seu poder ou renascer. Esse
renascimento é uma lapidação para o próprio corpo, que é preparado para receber
um futuro poder muito maior. A pessoa rejuvenesce, torna-se mais bonita do que
já foi antes e infinitamente mais poderosa. As fundações do corpo se
desenvolvem para ter capacidades de atingir um poder muito maior do que antes.
O envelhecimento torna-se muito mais lento, quase inexistente. Uma pessoa
renascida pode viver por centenas de anos e até alcançar uma idade milenar.
Mas, no inicio do renascimento, essa pessoa não será mais forte que um terceiro
reino normal. Embora tenha conhecimentos avançados, a perda de poder ainda é
severa.
O reino renascido deve buscar
novamente os seus avanços, que serão muito mais rápidos do que a primeira
devido os seus conhecimentos de outrora.
― Por isso ela era tão linda. ― disse Natalia surpresa. Sim,
esse poderia ser um motivo para a princesa Nastácia, ou Andréa, ser tão bela.
Além das razões de seu sangue real, poderia ser também devido ao seu suposto
renascimento. Mas isso ainda não explicava como ela sendo um quarto reino
renascido venceu um reino final. Dentro das normas acima, algo ainda estava
errado.
― O que eu disse é verdade, Andréa me salvou, ela matou
Arthur e depois fugiu voando. Até eu ainda estou um pouco confuso.
― Ativar: Andréa. Você está me ouvindo? ― perguntou Natalia
depois de levar o anel até a altura do rosto.
― Ela retirou o anel... ― explicou Rael para a garota, que
desistiu em seguida.
― Se ela era tão forte assim, porque no começo dependeu do
seu poder? ― perguntou Mara um pouco irritada. Essa questão também tinha feito
Rael pensar, ele não teve respostas.
― Talvez ela não sabia usar seu poder antes. ― disse Rael
olhando de lado.
― Temos que encontrá-la e trazê-la de volta. Pode ser que
ela só esteja confusa. ― disse Natalia.
― Trazê-la de volta? Primeiro, ela não mora nessa casa. Segundo,
ela não é da nossa família e, por fim, ela parece poder se virar muito bem
agora. Ela não precisa mais de nosso apoio. ― disse Mara sendo dura, como já
era o esperado.
― Ela salvou nosso marido, prima. ― Natalia continuou
insistindo.
― Salvou, e daí? Agora porque ela o salvou só falta Rael nos
dizer que também vai querê-la como esposa. ― disse Mara, cruzando os braços e
olhando Rael com aquela mesma expressão dura. Rael olhou de volta meio sem
jeito e Mara pegou o fio de culpa naquele olhar.
― Espere ai, não me diga que você e ela...?! ― Mara deixou a
pergunta no ar. Dessa vez Natalia iria entrar em defesa para Andréa, mas também
parou para ouvir a resposta de Rael.
Rael teve que admitir que Mara
era muito esperta e o conhecia muito bem, talvez muito melhor do que Natalia.
Ou aquilo poderia ser apenas ciúme mesmo. O olhar de Natalia sobre Rael era
muito mais sereno quando comparado ao de Mara.
As duas continuavam sendo
mulheres incrivelmente lindas, e mesmo quando Mara ficava brava, ela ainda era
uma bela beldade. Natalia pouco a pouco ia ganhando mais corpo desde que Rael
voltou, a moça já tinha até mesmo ganhado um certo crescimento nos seios, fora
em outras regiões de seu perfeito corpo. Rael jamais tiraria as duas de seu
coração. Elas foram seus primeiros amores, Mara principalmente por ter sido de
uma forma estranhamente natural.
Com Natalia, Rael tinha aprendido
a gostar. Essa garota sempre o tratou bem desde o início de sua vida. Depois
das coisas estranhas que rolaram entre os dois, ele foi aprendendo a ter mais
amor como homem por ela do que como um irmão. A cada vez que eles ficavam
juntos na cama, Rael ia se apegando mais a ela de forma diferente, de modo que,
desde o início sobre o qual ele a reencontrou, os tratamentos já haviam mudado
bastante. Rael não tratava Mara melhor do que Natalia nem vice-versa. E nenhuma
das duas tratavam uma a outra diferente. Natalia não tinha mais medo de Mara e
Mara não odiava mais tanto Natalia e nem a achava tão fraca. Essas mudanças de
tratamento se tornaram muito mais rápidas principalmente depois dos três
começarem a dividir a mesma cama e intimidade.
Rael não era ingrato por ter
essas duas beldades com ele, assim como nunca foi. Mas o caso é que sempre
havia uma mulher diferente e Rael já tinha descoberto que nem todas eram
iguais, principalmente no que se diz respeito ao sexo. As sensações podiam ser
parecidas, mas cada uma sempre tinha algo diferente de outra. Cada mulher tinha
Algo novo para se explorar, sensações únicas que poderiam oferecer.
― Mara, por que você tem tanta raiva dela? O que ela fez
contra você? ― Rael perguntou de volta. Ele demorou um pouco a falar por medo,
Mara ainda o assustava e ele não poderia perdê-la.
― Eu não acredito! Você tem interesse naquela mulher, ou já
fez algo que não deveria com ela! Rael, você nos traiu? ― perguntou Mara. Agora
até Natalia estava mais séria. Naquele momento, Natalia também deixou de
defender Andréa. Mulheres com ciúmes poderiam mudar um pouco suas perspectivas.
O pior era que cada uma das duas sabia que Rael escondia
algum segredo da outra, então, ambas estavam desconfiadas. Apesar de Natalia
ficar com ciúmes também, ela não se comparava a Mara que parecia que voaria em
Rael e o espancaria se ele não dissesse algo rapidamente. Natalia ficava séria
e com um olhar mais afiado, porém não tinha instintos de agressão nos olhos
dela como nos de Mara. Natalia ainda continuava sendo um doce de candura, mesmo
com o ciúmes a flor da pele.
Rael pensou em continuar lutando pelo que ele acreditava ser
seu direito mas, acabou sendo contido por aquelas duas. Se colocasse Andréa na
balança e qualquer uma de suas esposas, Rael jamais desistiria das duas, tudo
que ele sentia era simplesmente um desejo carnal de um homem afim de outra
mulher atraente. Não era paixão de verdade, Rael mesmo tinha admitido isso
diversas vezes consigo mesmo.
Mas Natalia e Mara eram diferentes, ele tinha amor
verdadeiro por elas. Tinha uma história com cada uma.
Rael também pensou sobre o quanto aquelas duas já tinham que
aceitar. Violadoras, celestiais e até uma menina soberana. Rael pensou que não
era justo colocar mais uma mulher desnecessariamente na balança.
― Esqueçam essa história. Eu nem sei se ela vai voltar
mesmo. Eu tenho que trabalhar. ― disse Rael, se virando de volta para os seus
afazeres.
― Você não está pretendendo se casar com essa mulher também,
não é Rael? ― questionou Mara só para ter certeza.
― Não, Mara, eu não estou. Agora me deixe trabalhar. Eu
tenho muito o que fazer antes da gente voltar para o vulcão e cultivar por mais
alguns dias. ― disse Rael fugindo do assunto. Era melhor evitá-lo por enquanto.
Mara não estava pronta para desistir tão fácil de suas
dúvidas, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa alguém bateu na porta.
Natalia se virou e atendeu recebendo uma carta de um dos guardas, que depois da
entrega desapareceu. Natalia apenas voltou depois de fechar a porta.
― O que é dessa vez? ― perguntou Mara, se virando para
Natalia que carregava um envelope dourado nas mãos enquanto se aproximava.
― É uma carta da princesa Anita para Rael... ― disse ela
depois de ler as laterais. Rael se virou curioso e Natalia, que agora estava ao
lado entregou a carta a ele.
― Já não é a segunda carta dela? O que será dessa vez? ― perguntou
Mara curiosa. Elas até esqueceram da conversa sobre Andréa. Rael que já não
estava mais tão concentrado nos seus afazeres, resolveu fazer uma pausa e
começou a guardar todos os materiais. As meninas continuavam o cercando e
voltaram ao assunto que já deveria ter sido esquecido. Mara estava incomodada
com a ousadia de Arthur atacar Rael deliberadamente.
― Você não está pensando em deixar o clã Sangnos impune, não
é? O patriarca deles tentou tirar sua vida! ― questionou Mara.
― Antes de morrer, Arthur disse que não tinha mais clã,
aparentemente ele abandonou aquele lugar. Então, não tenho motivos pra correr
atrás disso. ― disse Rael se levantando do chão depois de pôr tudo de volta no
bracelete.
― E você acreditou? ― perguntou Mara.
― Eu tirei tudo dele, o homem estava desesperado por
vingança. Eu meio que pedi por isso. Esqueça isso, já é um assunto resolvido.
Agora vou dar uma olhada nessa carta, se me permitirem. ― disse Rael, se
virando e subindo as escadas sem esperar qualquer resposta. Ele queria mais
alguns dias para acelerar seu cultivo e libertar a última violadora desse mundo
antes de lutar contra os devoradores que poderiam aparecer a qualquer momento,
mas as coisas não paravam de acontecer ao mesmo tempo e Rael não podia se
desligar de tudo.
Ele entrou em seu quarto, sentou na cama e rasgou o envelope
dourado, retirando uma papel branco de dentro:
‘Samuel, eu estou desapontada com você! Faz
vários dias que te mandei uma carta pedindo uma visita e você não fez nenhuma
questão de dar sinal de vida!
Eu sei que nosso casamento ainda
está longe, mas tenho assuntos que precisam de atenção e tenho certeza que
também são de seu interesse.
Meus irmãos não estão satisfeitos
com a forma que meu pai está fazendo as coisas e, ao que parece, estão prestes a
criar uma espécie de torneio imperial que envolverá todas as grandes famílias.
Venha me ver e eu lhe contarei os
detalhes.
De sua noiva, Anita.’
― Era só o que me faltava! ― disse Rael, depois de suspirar
após terminar de ler. A carta, como a outra, veio com mesmo perfume agradável
usado por Anita naquela noite.