Capítulo em audio --> https://www.youtube.com/watch?v=QCel213L_AA
Rael não se alarmou desde o incidente na sua chegada até o presente
momento. Depois de se afastar da área onde cruzou com aqueles dois, o menino
resistente e a bela jovem do décimo segundo reino, ele seguiu o seu caminho,
fazendo o reconhecimento do lugar e, ao mesmo tempo, procurando sinais de suas
aliadas. Rael lançava seus sentidos constantemente, tentando encontrar qualquer
uma das mulheres que deveriam estar com ele naquele local.
― ‘Eu ainda não tenho certeza por estar apenas no décimo
reino e meus sentidos terem perdido a força, mas acho que os outros não vieram
para o mesmo mundo que eu. Se tivessem vindo, eu já teria encontrado alguém ou
sido encontrado por Alexia e as violadoras. Até Rika poderia me buscar, já que
também possuo a essência dela.’ ― Rael pensou cuidadosamente sobre todas as
possibilidades consideradas e, agora, já tinha certeza de que estava separado
de todas as outras, mas, por quê? Essa resposta ele ainda não conseguia
encontrar.
Depois
de ter mais certeza sobre o seu estado, Rael conferiu o nível de energia deste
mundo desconhecido. Ao que Violeta tinha mencionado, a energia teria mais
pressão e no começo poderia até ser difícil respirar ou coisa do tipo.
― ‘Eu não sinto nenhuma pressão nesse novo mundo... Para
mim, parece que estou praticamente no mesmo mundo em que nasci’ ― Pensou Rael.
Depois
do susto com o menino loiro e a jovem, Rael saiu para conferir vilas e cidades
próximas. Ele também buscou entender os níveis das bestas locais e tudo era
muito inferior ao seu mundo na maioria das coisas.
― ‘Essas pessoas do quinto reino são diferentes das do meu
mundo. O poder delas é superior em termos de aura, mas seus corpos são frágeis.
Elas não têm a resistência corporal que teriam ao controlar o Domínio da
Resistência. É como se estivessem evoluindo seus cultivos de uma maneira
diferente, mais frágil.’ ― Rael continuava sua análise.
― ‘Aqui os cultivadores do quinto reino já são considerados
mestres e, ao que parece, demoram bastante para evoluir... Eu não compreendo,
como que aquele garoto e aquela mulher eram tão fortes enquanto o restante
dessas pessoas são tão fracas?’
Por
mais perguntas que Rael tivesse, respostas plausíveis surgiam em sua mente
através de curtas análises que fazia por si mesmo. Dessa vez, ele teria que
decifrar tudo por conta própria, não tinha como entrar em contato com Violeta,
Alexia ou alguém mais inteligente de sua confiança.
Rael
procurou entender também sobre a moeda local e vendeu um bracelete do infinito
vazio que possuía por cento e cinquenta moedas de ouro, apenas para ter algum
dinheiro e receber explicações sobre o local do velho comerciante, que ficou
muito feliz em contar tudo o que sabia ao garoto ruivo. As moedas eram diferentes
das que ele teria no outro mundo, mas funcionavam praticamente da mesma
maneira.
Rael
usou o Mundo da Simbologia que herdou de Emilia e alterou o molde de parte de
suas próprias moedas de ouro, no intuito de deixá-las utilizáveis nesse mundo.
Agora ele tinha aproximadamente cem mil moedas de ouro:
― ‘Com isso resolvo a minha preocupação em não ter dinheiro
suficiente. Agora, preciso encontrar algum lugar para descansar.’
Depois
de Rael encontrar uma boa pousada em uma cidade mediana chamada Ponto Seguro,
ficou mais relaxado. O atendente quase não quis aceitá-lo como hóspede por ele
ser apenas uma criança, mas conforme Rael pagou antecipadamente sua estadia por
um mês, o homem o aceitou, sob a condição de que não se responsabilizaria por
ele.
― É claro que você não será o meu responsável. Eu apenas
quero um lugar para dormir e descansar no tempo vago. Se eu tiver problemas, eu
mesmo os resolverei. ― disse Rael na ocasião, deixando o homem um tanto quanto
sem graça com a resposta. Quem iria se acostumar com uma criança falando
daquele jeito? Aparentemente, nesse mundo as pessoas não tinham conhecimento
sobre renascimento.
Quando
a noite chegou, Rael conjurou um escudo mágico em volta de sua cama, uma
técnica que Violeta o ensinou após o renascimento. Enquanto ele dormisse, esse
escudo o protegeria, impedindo qualquer um de se aproximar, e caso alguém
tentasse, o escudo despertaria o corpo do menino imediatamente, o alertando
sobre o infortúnio.
No
mundo completo, Rael encontrou as três violadoras e Keylla que, quando sentiram
o surgimento do menino, correram para saber como ele estava. Depois de saberem
que Rael estava bem e sem problemas por estar em um mundo fraco, as mulheres
ficaram bem aliviadas. Até mesmo Alice apresentava um pouco de preocupação, mas
era a que menos falava.
― Eu não sei o que aconteceu, isso não deveria ter ocorrido.
Pelo que entendi, todos fomos separados ― disse Violeta depois de Rael
questioná-la.
― Todos?! Então, Rose também está sozinha? ― Rael no mesmo
momento se lembrou da companhia mais fraca de todas, que era sua Rose.
― Não. Acreditamos que ela esteja com a mãe. Ao que entendi,
o portal nos separou em grupos. Como somos todas violadoras, fomos enviadas
para um mundo específico, assim como suas guardiãs, que são do mesmo tipo, para
um outro. Com isso, acreditamos que Rose e Rika estejam juntas em um terceiro
mundo e Alexia isolada em outro lugar, assim como aconteceu com você ― explicou
Violeta, para o alívio de Rael. Ele nunca se perdoaria se acontecesse algo a
Rose.
― E por que fomos separadas de Rael? Nós três não somos do
mesmo tipo? ― Keylla quis saber.
― Não necessariamente. Vocês são as guardiãs dele, e ele é o
Herdeiro, isso deve mudar alguma coisa. De todo modo, eu não fiz essa
programação no portal e não consigo entender o porquê disso acontecer. Ainda
estou tentando descobrir, mas sem estar perto do portal não teremos como saber.
O que me resta é preparar o portal de retorno de onde estamos para voltar ao
antigo mundo pequeno, mas isso levará alguns meses e apenas depois que vou
conseguir verificar o portal para nos unirmos novamente ― disse Violeta .
― Também podemos voltar voando. Não é somente Alexia que
sabe fazer isso ― disse Alice, que parecia um pouco irritada com aquele plano
demorado.
― Nós já conversamos sobre isso antes, irmã mais velha
Alice, e está fora de questão. Se formos vistas por alguém, teríamos graves
problemas. Não somos tão poderosas quanto Alexia e existem seres vigilantes por
todo o universo. Ver três violadoras voando juntas iria atrair muita atenção. ―
Disse Violeta de volta e continuou, voltando a explicação para todos: ― Também
não sabemos ao certo qual a distância daqui para aquele mundo pequeno, tentar
ir voando poderia demorar bem mais do que construir um novo portal. Seria
sensato evitarmos esses tipos de problemas.
― Ela está certa, Alice. Vocês violadoras facilmente
atrairiam atenção de qualquer um que as visse, e isso é muito perigoso. Vamos
manter a calma e agir sem pressa ― disse Rael. A jovem violadora só pôde ficar
em silêncio após ouvir o menino. De um tempo para cá estava mais fácil
conversar com Alice, embora ela ainda agisse com certa teimosia, não era mais
tão arrogante. Desde que alguém apontasse os pontos de maneira plausível, ela os
ouviria.
― Rael, você está mesmo bem? A atmosfera do planeta em que
você está não te incomoda? ― perguntou Keylla preocupada.
― Estou bem sim, já analisei o planeta em que estou e tudo
indica que não terei problemas.
Depois
de conversarem e Rael garantir que seria seguro aguardar naquele mundo, todas
ficaram mais relaxadas. O segundo foco da conversa foi sobre encontrar Alexia e
Rika.
― Quando Alexia descobrir o que aconteceu, vai começar a nos
procurar. É possível que ela viaje por vários planetas, então a possibilidade de
nos achar é alta. Rika também pode voltar a qualquer momento para aquele mundo
pequeno. Ela tem a habilidade de se teleportar para mundos em que já esteve,
então podemos ficar tranquilas ― garantiu Violeta.
Outra
coisa conversada é que Rael também podia criar portais e viajar para mundos em
que já esteve, bastava ele saber como fazer isso, a habilidade ele possuía
antes de ser morto. Porém, agora não tinha controle sobre esse poder.
― O quanto de poder você gastaria para fazer isso também não
sabemos. É bom tomar cuidado, porque a minha habilidade já suga bastante
energia ― recordou Alice.
Depois
de Keylla partir, Isabela surgiu para vê-lo. As guardiãs haviam revezado seu
tempo de descanso e as duas disseram aos demais que estavam em um mundo
bastante fraco. Apesar das pessoas não representarem perigo onde estavam, as
duas ainda se mantiveram atentas e, enquanto uma dormia, a outra ficaria de
prontidão. Isabela contou que estavam agora em uma vila onde as pessoas as
veneravam como deusas.
― São pessoas muito estranhas. Nós quase destruímos aquela
pequena vila com a nossa presença e eles ainda nos receberam muito bem. Todos
nesse lugar acreditam que somos as deusas Sol e Lua, isso existe? ― perguntou
Isabela, depois de explicar para Rael, e olhou para as violadoras em busca de
alguma explicação.
― Pode ser devido a alguma crença, algo em que eles
acreditam; particularmente, eu nunca ouvir falar de deusas Sol ou Lua antes. ―
Explicou Violeta.
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No dia seguinte, Rael
acordou com um novo objetivo. Agora que sabia que estava sozinho naquele mundo,
não iria mais continuar procurando por elas. O que lhe restava era conhecer
esse mundo melhor e ver se conseguiria utilizá-lo de algum modo para a sua
própria evolução. Também tinha oportunidade de procurar por novas violadoras,
sempre haveria a chance dele encontrar alguma adormecida em qualquer planeta.
― ‘Eu só não entendo como poderia haver três violadoras em
um mesmo planeta, ainda mais em um planeta categorizado como mundo pequeno.
Pelo que Violeta tinha dito, existem um total de 24 violadoras vivas. Algumas
podem estar despertadas e outras adormecidas em locais específicos pelo
universo, o problema é que há uma quantidade inacreditável de mundos pequenos e
comuns. Então, a probabilidade de encontrar apenas uma já é extremamente baixa,
o que dirá três, como aconteceu comigo’ ― Rael nunca tinha parado para pensar
naquela situação, e pela primeira vez se sentiu estranho. De fato, isso era um
verdadeiro mistério. Com tantos planetas existindo, como pôde ser possível que
três violadoras serem lacradas no mesmo mundo? Sem conseguir obter respostas,
Rael apenas saiu da pousada para viver mais um dia nesse mundo.
Rael
andava sempre bem vestido e sua aparência era muito boa para a de um simples
menino local. Ele era considerado fofo e lindo por qualquer mulher ou jovem que
o visse passar. Não era difícil as mulheres desse mundo sorrirem para ele,
pararem-no, perguntar coisas sobre seus pais, se estava perdido ou se precisava
de ajuda.
― Eu estou bem, irmã mais velha, obrigado pela preocupação;
minha mãe volta logo ― essa era a resposta básica de Rael toda vez que alguma
mulher o parasse. Ele já tinha limpado as marcas de batom do seu rosto algumas
vezes após receber vários beijos, beijos dados por mulheres tanto medianas
quanto bonitas.
― ‘Essas mulheres não sabem procurar um homem do tamanho
delas? Cruzes!’ ― Rael as vezes tinha que correr para não ser atacado por mais
algumas: ― ‘E o pior que elas são muito descaradas. Como pensam que sou uma
criança, se aproveitam. Também teve aquela maluca que me tomou os lábios. O que
será que se passa na cabeça delas?!’ ― o jovem menino ainda estava se
acostumando com a forma de ser tratado.
― ‘E ninguém desconfia que eu sou alguém poderoso, já
tentaram me roubar três vezes... Que situação! Tive que quebrar alguns braços
para ensinar-lhes uma lição...’ ― Rael se lembrou das várias vezes que foi
perseguido por grupos de homens. Esses grupos eram cautelosos ao observar os
passos do menino ruivo. Ao perceberem que ele estava sozinho e em um local com
menos pessoas, o atacavam. Quando Rael se defendia e mostrava um pouco de suas
capacidades, todos ficavam admirados ao máximo.
Depois
de mais um dia de pesquisas, Rael finalmente entendeu que aquele menino loiro e
a mulher bonita do décimo segundo reino eram exceções à regra daquele local.
Esse mundo era ainda mais fraco que o seu. Por alguma razão, tinha um menino
nesse mundo com uma resistência absurda e uma mulher consolidada no décimo
segundo reino. O poder mais forte que Rael havia visto até o momento dos outros
que pareciam normais eram sextos reinos, embora ele não tivesse ido em nenhum
local especial.
― ‘Eu ouvir dizer que vai ter um evento importante na
capital desse mundo em alguns dias, é um torneio envolvendo a sobrinha do rei.
Então, é uma boa oportunidade de aparecer pessoas poderosas. Preciso estar lá
para conferir esse evento e entender melhor sobre esse mundo.’ ― Rael se
decidiu. Ele já tinha muitas informações que havia pego observando e
perguntando aos cidadãos locais, mas era importante fazer a confirmação por si
mesmo. Além disso, o rei estaria presente, e com certeza as pessoas mais fortes
desse mundo o acompanhariam.
Com
esse pensamento, Rael se conformou em fazer sua última busca por informações em
relação ao poder total das pessoas desse mundo, e depois iria buscar por outras
respostas. Ele também estava certo que poderia se livrar sem problemas de
alguma perseguição caso alguém tão forte quanto aquela jovem surgisse
novamente.
― ‘Eu tenho o portal de Alice, não há nada com que me
preocupar’.
Conforme
os dias se passaram, Rael manteve contato com as mulheres sempre que dormia e,
por enquanto, nada tinha progredido. As guardiãs não tinham como voltar
sozinhas e Violeta não podia ensiná-las sobre como construir um portal porque
era algo complicado de aprender e exigia algumas outras coisas e objetos que
elas não possuíam em mãos. Voltar voando para o ponto de partida estava mais do
que fora de questão, embora elas pudessem tentar, seria muito perigoso. Isabela
e Keylla só podiam continuar esperando. As violadoras, por outro lado, já
tinham iniciado a construção do portal.
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O dia do torneio pela mão
da sobrinha do rei chamada Alessa havia chegado. Rael já tinha feito uma visita
na capital deles chamada Centro Celeste. Era uma cidade bonita e bem desenvolvida.
A tecnologia deles também o surpreendeu um pouco. A iluminação deles era gerada
por uma rocha chamada de Rocha Luminosa, que era extraída das cavernas de
mineração.
― ‘Eles não usam pedras espirituais, mas acredito que a
essência dessa rocha luminosa não deve ser diferente’ ― pensou Rael depois de
perguntar sobre o funcionamento dessas rochas luminosas.
Naquela
manhã, na capital, Rael aproveitou para obter mais informações. Ele perguntou
sobre pílulas de cultivo e formas rápidas de evoluir. Claro, ele teve que pagar
pela maioria das informações para algumas pessoas que não se importavam de
tomar dinheiro de um menino curioso. Depois das várias respostas, ele saiu
muito desanimado.
― ‘No meu mundo eu tinha o vulcão do dragão caído para
cultivar, que era muito melhor do que aqui. Nesse mundo não tem nenhum ponto
bom em questão, apenas alguns locais com uma energia mais elevada, e já são
territórios de determinados clãs. As pílulas também são decepcionantes, elas
são tão atrasadas que as melhores deles aumentam em apenas 75% do cultivo.’ ―
Rael desanimou completamente por ter trocado de mundo. Para ele ter saído do
seu antigo mundo e deixado para trás várias pessoas que amava não tinha sido
uma tarefa fácil, e ao chegar em um novo mundo e descobrir que nada era melhor
do que o antigo o deixou frustrado.
― ‘Eu sinto que só perdi meu tempo ao cair aqui. Confio
cegamente em Violeta e no julgamento dela; Alexia também me disse que seria
melhor para a evolução, mas eu não esperava me deparar com isso’ ― pensou Rael.
Ele se resignou aceitando o fato de que por enquanto não poderia fazer nada a
não ser continuar seguindo com sua análise. Era essencial descobrir o máximo
possível de coisas desse mundo para então partir para os outros pontos, que
seria descobrir formas de cultivar ou de como reaprender antigas habilidades.
Rael não tinha planos para ficar muito tempo por aqui, a menos que fosse
forçado.
Com a noite chegando, Rael
abandonou todos os pensamentos acima e se dirigiu para o local do torneio. Ele
se sentiu curioso, pensando em qual seria o motivo de haver um torneio para
disputar a mão de uma mulher.
―
‘Me pergunto se ela é bonita ou se isso é apenas devido ao seu status...’ ―
Rael tentou imaginar qual seria a razão, enquanto continuava seguindo sem
pressa pelas ruas da capital de Centro Celeste.