Parte 01 - As Fadas de Collinadiluche
Depois de ter sido tocada e apertada por todo o corpo,
Ithea então teve uma luz brilhando contra seus olhos para verificar seus
movimentos, foi forçada a tomar remédios para fins de teste e responder a
perguntas sobre seu humor e, enquanto isso uma pequena quantidade de sangue foi
retirada.
[Uhhh, tendo o meu corpo tocado desse jeito, não posso
mais me casar...].
Com apenas um vestido sobre a pele nua, Ithea sentou-se
na cama hospitalar.
[De qualquer forma, a inspeção acabou agora, certo?].
Sem resposta. O médico Ciclope fez um rosto preocupado
enquanto olhava seus registros médicos. Como regra geral, ler as expressões de
outras raças com diferentes estruturas faciais não era uma tarefa fácil, mas,
ainda assim, havia momentos em que a mensagem atravessava.
[... Você realmente se esforçou], disse o médico
fracamente, como se estivesse lutando para falar.
[Ahaha, bem, minha teimosia é a única coisa em que eu
sempre tenho confiança]. Ithea encolheu os ombros com seu habitual riso
enquanto abotoava o vestido.
[Sua força vital está todo murchada. Seu corpo está
esquecendo o que significa viver. Se você receber uma ferida, provavelmente não
vai curar. A força que se esvaziou ao inflamar o Venenum nunca mais retornará].
[Mhm, tive a sensação de que era o caso]. Ela respondeu
ao tom sério do Ciclope com a voz mais alegre que conseguiu.
[Da próxima vez que você estiver no campo de batalha,
não sei se você poderá voltar para casa].
[Eu acho. Bem, é finalmente minha vez, hein].
Ainda sentada na cama hospitalar, Ithea balançou os pés
para frente e para trás.
[Para ser sincera, vivendo tanto tempo, minha mente tem
sofrido ultimamente. Os que eu quero viver continuam morrendo e, enquanto isso
eu continuo vivendo essa vida sem sentido].
[Não existe tal coisa como vida sem sentido].
[Ah... Verdade, nem somos vivas].
[Isso não foi o que eu quis dizer].
[Não seria melhor dizer isso dessa forma? Não é bom
simpatizar com uma ferramenta descartável].
[É verdade que muitas pessoas pensam dessa maneira, mas
são todas as pessoas que não conhecem vocês diretamente, pessoas que nem sequer
dizem que as fadas possuem personalidades individuais. Nós não pensamos em
vocês como-].
[Se você não nos envia para nossas mortes, Règles Ailés
não pode ser protegida]. Ithea cortou as palavras do Ciclope no meio do
caminho.
[É por isso que não somos reconhecidas como uma raça. É
por isso que somos tratadas como armas sem direitos. É necessário, porque todos
precisam poder usar e nos descartar sem hesitação, estou certa?].
[Sim], o médico disse com uma voz amarga com um suspiro
pesado.
[Eu vou reconhecer isso. Mas o que pensamos
individualmente é nossa própria escolha].
[Se muitos adultos nos mimam, podemos começar a dizer
‘Não quero morrer, então não vou lutar’, sabia?].
[... Eu suponho]. O único olho do Ciclope desviou.
[Hm. Você está agindo um pouco desconfiado. Você está
escondendo algo?].
[Bem, não é nada importante, mas... Se, apenas
hipoteticamente, vocês talvez não tivessem que lutar mais, talvez você pudesse
continuar vivendo, o que você queria fazer?].
[Ah, uma pergunta muito súbita]. Ithea pensou por um
pouco. [Se isso é apenas hipotético, então, eu acho que praticamente só o que
eu venho fazendo esse tempo todo].
[Esse tempo todo?].
[Passar todos os dias vagarosamente no armazém da
floresta. As pequeninas brincando de forma barulhenta, nossa figura infantil de
mãe correndo ao redor... Assistindo tudo isso enquanto relaxava com um livro. É
tão livre de estresse, minha vida continuaria ficando mais longa].
[... Haha, entendo. Sim, entendo]. O Ciclope assentiu
repetidamente.
[Como eu pensei, você deveria viver uma vida longa],
ele disse, derrotando todo o propósito de sua conversa.
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O ajuste do corpo de Lakhesh terminou. Os bons números
indicando sua habilidade natural impressionante ganhavam o louvor dos médicos.
E com cada elogio, o humor de Nygglatho afundava cada vez mais e mais fundo.
Afinal, como uma menina poderia ser feliz depois de ouvir elogios sobre sua
alta funcionalidade como uma lâmina ou uma bomba? Se Lakhesh tivesse talento,
seria melhor que uma oportunidade de usar esse talento nunca chegasse.
Nygglatho desejava que isso não acontecesse. Fique longe!
[Ooh!].
[Ahh...].
Tiat e Lakhesh soltaram suspiros sincronizados de
admiração.
O Mercado Barley, uma das principais atrações
turísticas de Collinadiluche. Originalmente, era, como o nome indicava, um
mercado de atacado que lidava apenas com cevada. Um outro mercado foi
construído perto do distrito do porto, perdendo seu papel e tornando-se apenas
uma praça popular. Vários artistas exibindo seus talentos se espalhavam no
espaço aberto. Um palhaço Ballman manipulava inúmeras facas, um mago Frogger
soprava uma fina coluna de fogo, e um grupo que usava máscaras combinando
enchia o ar de música viva.
[Uau, uau, uau!].
A curiosidade de uma criança, uma vez desencadeada, não
conhece limites. Tiat correu dessa maneira e partiu para uma multidão próxima.
Ela puxou Lakhesh junto, que soltou gritos quando elas foram.
[H-Hey, não corram tão rápido! Não se esqueça de que
vocês estão sendo vigiadas!].
Por causa dos procedimentos formais para manusear armas
na Winged Guard, quando as Leprechauns foram para fora, elas precisavam de um
oficial de acompanhamento pelo menos. O deplorável 4º oficial que ficou preso a
este trabalho perseguiu as duas enquanto ele gritava atrás delas
miseravelmente.
Nygglatho observou com sentimentos mistos.
[... Teria sido bom se realmente tivéssemos vindo aqui
apenas para fazer turismo].
Ela sabia que era um desejo sem esperança. As meninas
estavam aqui para se preparar para uma batalha, uma batalha na qual elas não
deveriam ter necessidade de se envolver. Mas só por isso era permitido um pouco
de turismo, um pedido egoísta que normalmente nunca seria aceito.
Falando em egoísmo, havia Nephren, que, como Nygglatho
viu anteriormente, não estava morta afinal de contas. No entanto, ela também
não estava bem. Tendo passado por uma transformação em um significado diferente
de Chtholly, Nephren nunca mais voltaria ao armazém de fadas. Nygglatho
sentiu-se solitária, mas não triste. O mundo é um lugar grande, e o céu é uma
parte estreita dela. Poder confiar que ela estará sempre saudável em algum
lugar, deu a Nygglatho conforto suficiente. Para aqueles que já se foram, no
entanto, ela nem sequer podia desejar.
[Ei, Nygglatho, por aqui! Eles estão fazendo uma
competição queda de braço! Quer entrar contra esse cara?].
Olhando por cima, Nygglatho viu Tiat acenando com
entusiasmo, o 4º oficial gerenciando um sorriso confuso e ainda arregaçando as
mangas, e Lakhesh se curvando em desculpas.
Tão alegres, sem a menor ideia do que está passando
pela minha cabeça... Isso é muito bom.
[... Tudo bem, mas...]. Nygglatho acenou sua mão em
troca.
[Se eu entrar, a competição terminaria imediatamente!],
ela disse, então correu para onde as crianças estavam de pé.
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Para todas as coisas, sempre tente perguntar. Ao
perguntar se ela poderia entrar na Grande Biblioteca Central com a expectativa
de receber um ‘não’, Rhantolk ganhou uma afirmação ‘ok’ da filha do prefeito,
Phyracorlybia... Ou Phyr, como preferia ser chamada. Então, antes do meio dia havia
passar, Rhantolk obteve permissão para entrar.
Isso deu a Rhantolk, aquela que perguntou, uma grande
surpresa. Afinal, elas eram fadas caipiras sem direitos. Por outro lado, a
Grande Biblioteca Central de Collinadiluche era um dos principais lugares onde
a sabedoria de tudo em Règles Ailés se reunia. A enorme diferença no calibre
fez Rhantolk sentir como se algum castigo fosse cair sobre ela apenas por estar
perto da biblioteca.
O cartão de permissão de entrada, entregue a ela em um
envelope, também parecia um pouco como uma arma perigosa. Debaixo de muitos
selos imponentes estavam as palavras misteriosas ‘O titular tem permissão para
ver até o arquivo secreto B-47’. O que diabos é o B-47? Será algum tipo de
segredo, que quem descobrir deverá ser eliminado?
[... Você também pensa em coisas imprudentes, Rhan],
murmurou Ithea, segurando o mesmo cartão de permissão de entrada.
[Por favor, não fale mais isso. Eu já estou bem ciente,
e isso está me sobrecarregando].
[Bem, então, vamos! Talvez eu não seja muito útil, mas
vou ajudá-la com suas pesquisas com o melhor da minha habilidade!].
Phyr, ficando entusiasmada sozinha e avançou com
grandes passos.
[Não posso ajudar em sua batalha original. Mesmo
tentando seria um insulto à determinação das fadas. Então, para coisas que eu
posso fazer, vou fazer o meu melhor!]. Uma chama vermelha queimava em seus
olhos.
[Quando ela fica assim, ela é realmente problemática...],
observou Ithea.
[Isso aconteceu antes?].
[O técnico bagunçou um pouco as coisas...].
Esse cara novamente? Por que todos revelam seu lado
irritante quando se trata dele?
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Elas lutavam com inúmeros livros. Rhantolk achou que a
cabeça dela ferveria. Gostava de ler livros. Ela também não odiava pensar. Mas
todas as coisas têm um limite. Depois de estar cheia de informações além de sua
capacidade, sua cabeça ficou muito febril.
[Devemos sair um pouco para descansar e organizar
nossas anotações?], ela sugeriu.
[Hmm, acho que vou ficar com este livro um pouco mais.
Você pode ir primeiro], respondeu Ithea.
[Eu vou ajudar a Ithea, então você pode ir. Ah, há uma
cafeteria com um bom pudim por trás desta biblioteca, então você pode nos
esperar lá e nos encontraremos lá?], disse Phyr.
Elas são mais duronas do que parecem.
[Não,
provavelmente não deveríamos nos dividir. Como somos fadas e tudo mais], disse
Rhantolk, então olhou para o homem de uniforme militar parado ao seu lado.
[O 1º oficial me disse que você poderia agir livremente
o máximo possível. Mas não vá muito longe].
Inesperadamente, ele lhes deu permissão. Rhantolk tinha
dúvidas sobre se estava ou não bem, mas, se ele dizia que estava bem, ela não
iria discutir.
[… Entendo. Bem, eu também posso], disse ela, então com
o caderno na mão, levantou-se.
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Ela encontrou
rapidamente a cafeteria que Phyr mencionou. Talvez porque estava localizada
fora da rua principal, não havia muitos clientes presentes. No entanto,
aparentemente, quase todos esses clientes não eram turistas, mas locais, o que
significa que a cafeteria era boa o suficiente para atrair pessoas comuns.
Depois de pegar um assento em um terraço ao ar livre,
Rhantolk escolheu um chá de leite e uma torta de maçã no cardápio cheio de
opções aparentemente deliciosas. Ela então abriu seu caderno e analisou algumas
das coisas que ela copiou de vários livros.
[Hmmm...].
O que são Leprechauns em primeiro lugar? Por que elas
existem? De onde elas vêm, e para onde elas vão? Essas foram as perguntas que
Ithea levantou um dia no armazém de fadas. A lista deu a impressão dos
problemas de uma adolescente na puberdade. E, infelizmente, elas eram
adolescentes precisamente na puberdade. Os filhos de outras raças provavelmente
buscariam respostas a essas questões em livros de filosofia ou ficção, mas elas
estavam investigando os livros de pesquisa de necromancia e os mais avançados
disponíveis em toda Règles Ailés.
[Nós realmente
somos coisas suspeitas, não somos...]. Rhantolk murmurou, então lembrou que
estava sozinha.
Desde que estavam juntas há tanto tempo, ela sempre
teve a sensação de que Nopht estava ali ao seu lado. Nopht ela mesma não penava
muito sobre as coisas e no geral não era exatamente a mais brilhante, mas ela
era boa em ouvir. Nopht poderia tirar palavras de Rhantolk, mesmo quando ela
estava pensativa. Como resultado, Rhantolk pegou o hábito de falar consigo
mesma. Bem, isso não é bom, ela pensou. Ela pretendia ser uma mulher independente
com tudo junto, mas não parecia estar indo muito bem.
[Parece que não
estou chegando a lugar algum, não importa o que eu faça...]. Rhantolk mordeu um
bocado da torta de maçã. Deliciosa. Naquele momento, um forte vento soprou.
Tirou algumas páginas das anotações da mão de Rhantolk e as levou para o céu.
[Ah...].
[Hã?]
Não é alto? Como se instantaneamente o tempo tivesse
sido congelado no lugar, todos os papéis de repente pararam de se mover.
[O que…].
Após uma breve
pausa, as anotações começaram a se mover de novo. No entanto, desta vez,
ignoraram o vento e, como se estivessem sendo rebobinadas, se juntaram nas mãos
de um homem de pé na rua, um homem velho com um rosto imponente vestindo um
manto branco bastante notável.
[A-Ah!? Você!?].
[Oh, a menina do
outro dia! Que coincidência!]. Não parecia particularmente surpreso, o velho da
rua começou a abrir caminho, com o maço de anotações na mão.
[Estudando duro,
mesmo em um lugar como este? Muito bom, muito bom. As coisas que você aprende
enquanto jovens se tornarão suas armas no futuro. Claro, você também deve
aprender a usá-las ou então não tem sentido... Hm?]. O velho olhou para o maço
de anotações e franziu a testa.
[Obrigado. São
anotações muito importantes], respondeu Rhantolk.
[Hm, necromancia avançada? Um assunto bastante estranho
para uma estudante escolher para um projeto de pesquisa].
[Bem, eu não sou uma estudante, e não estou exatamente
fazendo nada tão nobre quanto ‘estudar’. Eu também não estou tentando me
preparar para o futuro. Eu só quero saber alguma coisa agora].
[O quê?]. O velho passou as anotações.
[… Entendo. Sua
cor de cabelo. Você também é uma Leprechaun].
[Sim].
Por um momento,
várias emoções rodearam a cabeça de Rhantolk. Aqueles que conheciam as Leprechauns
não tinham necessariamente uma boa impressão delas. Ela se preparou, com medo
de que aquela expressão apareceria no rosto do velho.
[Oh, então a outra jovem deve ser a sua gerente. Me
desculpe. Uma vez eu decidi nunca vê-las pessoalmente, mas agora acabei te
conhecendo e conversando].
O que isso poderia significar? O rosto do velho torcia
levemente com dor, mas com certeza. Nem ódio, nem discriminação, mas sim culpa
escoou para fora daquela expressão.
[Hum, você está bem?].
Rhantolk achou que era uma pergunta tola. Se o homem
não estava bem, era claramente culpa dela. Ela não estava na posição de colocar
um rosto agradável e agir preocupada.
[... Haha. Você está preocupada comigo? Você é uma
garota gentil].
[Uh...].
Por algum motivo, ele a elogiou. Bem, desde que se
conheceram pela primeira vez, Rhantolk teve a sensação de que eles não estavam
realmente na mesma página durante suas conversas. Era uma espécie de sentimento
frustrante, como se algumas engrenagens importantes não combinassem, mas
continuavam girando.
[Acho que não há como desencontrar com alguém que já se
encontrou. As coincidências são coincidências. Se você as leva como boa ou má
sorte só depende de como você lida com a situação].
[Uh...].
O que esse cara está dizendo? Em frente a Rhantolk
desconcertada, o velho tirou uma cadeira e sentou-se em frente a ela. Seu corpo
grande parecia um pouco estranho na pequena cadeira do café.
[Há algo que você quer saber envolvendo necromancia,
não é? Me pergunte e responderei].
[Ah, a coisa que estamos tentando pesquisar é um pouco
difícil...]
[Eu imagino. Não me importo, então pergunte].
Ele não vai desistir. Mais cedo, o velho examinou as
anotações de Rhantolk e entendeu que elas eram sobre necromancia. Com isso, ela
adivinhou que ele era bastante experiente. No entanto, o que elas queriam
saber, definitivamente não era algo que qualquer velho sábio conhecesse.
[... O que são Leprechauns?]. Rhantolk tentou perguntar
de qualquer maneira, duvidando que ele pudesse responder.
[Entendo. Você está indo direto ao ponto. Muito bom,
muito bom].
O velho acenou alegremente por algum motivo.
[Agora, de onde devo começar].
Ele pensou por um momento.
[Há muito tempo, os Visitantes pediram ao Poteau que
criassem o Emnetwyte].
[Huh?].
Isso não tem nada a ver com a minha pergunta, pensou
Rhantolk.
Não prestando atenção a sua confusão aparente, o velho
continuou.
[Eles não os criaram a partir do nada. Eles prepararam
materiais base e os modificaram. Havia aproximadamente dois tipos desses
materiais base. Um consistiu na única vida que existia no planeta antes da
chegada dos visitantes, as ‘bestas primitivas’. O outro consistia nas almas dos
próprios Visitantes, cansados de viver uma vida de desânimo sem fim. Quanto ao
método de modificação...].
O velho apontou para a torta de maçã comida pela metade
no prato de Rhantolk.
[Foi o mesmo que isso. Eles envolveram as ‘bestas
primitivas’ com suas almas, que se fragmentaram em vários fragmentos. As almas
violentaram a carne das bestas, lançando uma grande maldição sobre elas. O que
antes eram ‘bestas’ transformaram-se em seres inteiramente diferentes, com
figuras semelhantes às dos visitantes, ou seja, o Emnetwyte].
[Uh... Hum, ehh?].
Não coincidia com o mito de criação mundial comumente
aceito. A grande escala de tudo isso confundiu Rhantolk. E, em primeiro lugar,
ele ainda não respondeu sua pergunta. Ela nem sabia por onde começar. No
entanto, houve uma parte que chamou sua atenção: os Visitantes usaram as
‘bestas primitivas’ para criar o Emnetwyte.
[Mas, bem, depois disso, o Emnetwyte cresceu demais. O
número de tortas aumentou, mas, infelizmente, a quantidade de casca não. A
casca, as almas dos Visitantes, nunca aumentou além da quantidade original
presente quando foram quebradas. Então, com cada dia que passava, a casca ficou
mais fina e mais fina].
[... Poderia ser o que se entende por 'as bestas foram
liberadas a partir de dentro’...?].
Essa foi uma hipótese que Rhantolk chegou no outro dia
na terra. No entanto, esse pensamento veio de um livro antigo que ela acabou de
encontrar. Por que o velho, que não teve a chance de ler o mesmo livro, disse
algo parecido?
[Sim, muito bom. Você já descobriu isso?].
Impressionado, o velho olhou as anotações sobre a mesa.
[As ‘bestas primitivas’ eram originalmente seres
eternos e indestrutíveis. Ao ser selado dentro do Emnetwyte mortal, elas
mudaram. Arrependimento. Esperança. Impaciência. Justiça. Bondade. Medo.
Desinteresse. Ignorância. Arrastadas por uma infinidade de coisas que levam os
seres humanos à morte, elas se tornaram seres que representavam 17 tipos de
morte. Se essas coisas fossem liberadas, o Emnetwyte seria extinto. Os humanos,
percebendo isso, pensaram em um plano. Por sorte, na época, os visitantes ainda
estavam por aqui, embora apenas dois deles].
Os visitantes. Mesmo agora que a lenda é transmitida,
como, um pouco mais de 500 anos atrás, os Braves Emnetwyte matou o último
Visitante.
[Eles queriam usar essas almas para criar uma nova
casca de torta. No entanto, eles falharam. Eles não podiam recriar o que o
Poteau fez com a tecnologia humana. A alma do visitante não quebrou de forma
limpa e acabou em uma bagunça de inúmeros pedaços dispersos. Sem forma de
cozinhar toda a nova torta, o fim chegou conforme o esperado. Bem, deixei um
pouco, mas essa é a essência disso].
[... Hum].
Hesitantemente, Rhantolk ergueu a mão.
[Essa foi uma história muito interessante, mas apenas
explicou o que são os Emnetwyte, certo? Perguntei sobre as Leprechauns].
[É claro, eu também respondi].
Argh, realmente não estamos na mesma página. No
entanto, mesmo que não estivessem na mesma página, eles ainda estavam tendo uma
conversa adequada. Tudo o que Rhantolk precisava fazer era decifrar suas
palavras como se estivesse lendo um livro antigo difícil. Se ela fizesse isso,
então certamente entenderia. Com isso em mente, ela pensou em sua história.
[... Poderia ser...].
Então, Rhantolk percebeu. A alma do último Visitante
não quebrou suavemente. A nova torta permaneceu mal cozida, e os ingredientes,
os fragmentos da alma, permaneceram dispersos.
[A próxima geração de Emnetwyte falhou que o Emnetwyte
não pôde completar. Essa é a nossa verdadeira natureza?].
[Hm. Seu entendimento não está errado].
O velho acenou com a cabeça.
[No entanto, eu não diria 'falhou'. Bem, a
interpretação depende da pessoa. Você pode tomá-la de forma otimista ou
pessimista].
Antes disso, havia algo mais importante. Se o que o velho
disse era realmente verdadeiro, então isso respondia muitos mistérios que
permaneciam sem solução em Règles Ailés durante séculos. Isso não poderia estar
certo, mas Rhantolk de alguma forma sentiu o que era.
[Por que você sabe disso?].
[Eu vivi uma vida um pouco longa], o velho respondeu
com um encolher de ombros.
[Se o que você disse é verdade, não é conhecido neste
mundo. Por que você contaria algo assim a alguém como eu?].
[Eu devo a vocês meninas alguma coisa]. Ele sorriu com
apenas uma ligeira sugestão de tristeza.
[Não posso me desculpar nem trazer nada de volta. Nem
eu seria qualificado para fazer. Mas eu posso pelo menos fazer isso. Enfim, não
é mais do que um homem covarde e egoísta que se consola].
Ele levantou-se.
[Eu duvido que nos encontremos novamente, mas este foi
um momento valioso].
[Ah...].
Tentando impedir o velho de ir, Rhantolk levantou-se
com pressa, mas, naquele momento, uma rajada de vento soprou. Preocupada com o
fato de suas anotações voltarem a sair voando, ela entrou em pânico e fechou o
caderno. Quando ela olhou de novo, o velho não estava mais na sua vista.
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[Nossa... Estou exausta].
Como uma aluna no caminho de casa da escola, Ithea
caminhou com os olhos girando pelo excesso de trabalho. Phyr, sua condição
ilegível sob seu pelo de Licantropo, a seguia muito atrás.
[O que aconteceu, Rhan? Você parece meio desorientada].
[... O que somos nós? Por que nós existimos? De onde
viemos e para onde vamos?].
[Rhaaan?].
[Na verdade, a resposta parece... Inesperadamente
vazia...].
[Rhaan? Olá? Rhantolk?].
Ithea acenou com as mãos para frente e para trás na
frente do rosto de Rhantolk.
O garfo apoiado no prato da torta de maçã comida pela
metade tiniu ligeiramente.